Quem mal se comunica se trumbica
Edgard Steffen
“Qu’ils mangent de la brioche”
(Frase atribuída a Maria Antonieta)
Por que a barulheira dessa gente? -- Estão pedindo pão, Majestade. -- Se não têm pão, que comam brioches! Este diálogo teria ocorrido quando o povo esfomeado aglomerou-se diante do palácio onde estava a rainha Maria Antonieta, esposa de Luiz XVI. Pouco tempo depois a guilhotina desceu sobre os reais pescoços apeados do poder na Revolução Francesa (1789).
Não há documentos que comprovem o diálogo. Apareceu numa citação de Rousseau em autobiografia. A frase infeliz teria sido proferida por “uma” rainha totalmente despreparada para entender a miséria social de seu povo. No século 18 não havia captadores do som ambiente. Muita coisa boa foi desperdiçada e muito besteirol levado pelos ventos.
Quem, por dever de ofício, frequentou salas de cirurgia deve ter ouvido impropérios e palavras chulas saírem da boca de educadas damas ou de gentis cavalheiros colocados sob anestésicos. Felizmente a ética profissional mantém intramuros o escape do freudiano id.
Você não precisa escarafunchar sua memória para encontrar palavras ou frases que se arrepende de haver proferido. Calmo, cortês e contido cidadão em público, solta palavrão na intimidade. Por exemplo, quando acordado de soneca pós-prandial para atender telemarketing fonado tentando vender-lhe novo plano ou combo de qualquer porcaria que já tem e custa-lhe os olhos da cara.
Ao homem público, nestes dias de big brother orweliano, (ignore-se o global) muita atenção ao que se vai falar é mais do que prudência, é sobrevida. General de boa reputação e excelente currículo, cercado de gente ligada ao Governo, emitiu opinião seguida de palavrão sem imaginar que seria ouvido. Parênteses: Há quem acredite que o fez de propósito. Teve a conversa informal transformada em declaração pública. Mais um tropeço de um governo que vem tropicando às mancheias. E leva este cronista também escrever disparates ao botar mãos pelos pés.
Na internet você encontra gente muito importante falando besteira. Na crônica do sábado anterior escrevemos sobre o Bota Abaixo e citamos a revolta contra a lei que tornou obrigatória a vacina antivariólica. O grande Rui Barbosa lutou contra a obrigatoriedade, justificando: Não quero ter meu sangue envenenado por um vírus. Tinha razão quanto ao vírus -- vacinação é inocular um vírus benigno para prevenir uma doença maligna -- mas prestou um desserviço à Nação lutando contra a lei da vacinação. Sobre o saneamento e reurbanização do Rio de Janeiro, Olavo Bilac assim se expressou: “Vibrai, feri, exterminai, demoli, trabalhai e cantai sem descanso, picaretas sagradas! Cada golpe dos vossos é uma bênção e uma redenção!” Tinha razão quanto ao saneamento, mas estava olhando para a Via Láctea na busca de ouvir estrelas enquanto ignorava sofrimento terráqueo dos pobres desalojados.
A História recente é plena de ratadas. O mesmo presidente João Figueiredo que disse preferir cheiro de cavalo ao cheiro do povo, destrambelhou: Vou fazer deste País uma democracia. E se alguém for contra eu prendo, mato e arrebento.
Nem o intelectual da Sorbonne, que dizia ter um pé na cozinha, escapou de falar asneira. Em 30/2/1998 teria soltado: Vida de rico é muito chata... Pode ser chata mas FHC preferiu continuar morando em Higenópolis a mudar-se para a favela de Heliópolis.
Nunca antes neste País -- que elegeu postes de um espertalhão -- se falou tanta sandice quanto a presidenta Gerenta que, entre produtos essenciais para o desenvolvimento de toda civilização humana ao longo dos séculos, verbalizou: Estou, hoje, aqui saudando a mandioca... Doutra feita lamentou que O Brasil ainda não conseguiu tecnologia para estocar o vento.
Sem esquecer o “Ame ou deixe-o” do regime militar. Dá vontade de deixá-lo e acompanhar as domésticas que tiram férias e vão para Orlando.
Fonte: Internet, vários sites
Wikipedia
Sorocaba, 24/02/2020
Edgard Steffen é médico pediatra e escritor. E-mail: edgard.steffen@gmail.com