Mês mais curto, inflação mais alta

É uma bomba de cada vez. Em dezembro, estouraram os preços do café, das carnes e da laranja. Em janeiro, os da cenoura (36,14%), tomate (20,27%), sem muito afrouxamento nos itens anteriores. E, em fevereiro, foi a vez da energia elétrica (esticão de 16,8%), dos ovos (15,4%) e o do café, que acumula alta de 20,25% somente neste ano.
Preocupado com a derrocada nas pesquisas de aprovação, já em clima de eleições que se aproximam, o governo Lula vai correndo atrás dos culpados e dos suspeitos de sempre.
Em fevereiro, já não poderia mais apontar o dedo nem para produtores, nem para atacadistas, nem para atravessadores. Foi o governo que descarregou sobre a conta de luz mais uma estocada. Desta vez, foi a tal recomposição do bônus da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Alguém pode argumentar que, na virada de cada ano, acontecem os reajustes de preços e de tarifas, especialmente os dos serviços, que engordam a inflação. É explicação de longe insuficiente. Embora já esperada, a inflação deste fevereiro foi a mais alta dos últimos 22 anos. O governo prefere demonizar os sintomas e não ataca as causas.
Não dá para ignorar os efeitos da seca e do excesso de chuvas que se abateram em regiões diferentes do País. Mas essa conta pesou relativamente pouco diante das outras.
Os diagnósticos do Banco Central, organismo cuja direção foi majoritariamente escolhida pelo presidente Lula, vêm avisando que a alta dos preços tem origem no consumo excessivo que, por sua vez, é o resultado da gastança (questão fiscal).
Quem olha para além das aparências sabe que a inflação é resultado da compra do amém do eleitor com pacotes de bondades baixados pelo governo: mais Bolsa Família, mais Pé-de-Meia, mais saques do Fundo de Garantia, mais créditos consignados. Assim, a demanda agregada dispara à frente da capacidade de oferta do setor produtivo.
O Banco Central faz o que pode com a única arma de que dispõe: retira dinheiro do mercado, o que produz alta dos juros, com os efeitos colaterais conhecidos: disparada dos custos do crédito, repuxada da dívida pública (que incorpora os juros no principal), aumento do endividamento das famílias e corte nos investimentos.
Para os próximos meses, deve haver alguma desaceleração da alta. Mas o momento está a disparar incertezas, a partir da política econômica errática e maluca do presidente Donald Trump, que vai desarticulando os fluxos de produção e distribuição ao redor do mundo — e não só nos Estados Unidos.
Por aqui, soma-se a essas incertezas a tendência de alta do dólar no câmbio interno, fator que tende a conduzir mais água ao moinho da inflação.
Celso Ming é comentarista de economia.