Criminalidade em tempos de Pix
Enquanto ocorrências contra bancos e caixas eletrônicos caem, explodem sequestros e roubos a mão armada
Um dos fatos mais marcantes da semana -- certamente o mais chocante -- foi a cinematográfica ação contra três instituições financeiras em Araçatuba, na qual cerca de 20 homens fortemente armados, e com aparato que incluía bombas e drones, sitiaram o centro da cidade. A quadrilha aterrorizou moradores, fez reféns, roubou bancos e deixou um rastro de destruição, com três mortes e vários feridos.
Curiosamente, porém, o número de assaltos a bancos e de ataques a caixas eletrônicos caiu no 1º semestre no Brasil, segundo balanço divulgado na terça (1) pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Nos seis primeiros meses do ano, foram 36 assaltos e tentativas de assaltos a agências bancárias em todo o País, número 37% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, com 57 casos.
Já o número de ataques a caixas eletrônicos também caiu de 353 no 1º semestre de 2019 para 253 em 2020, um recuo de 28%. Em todo ano de 2019, aconteceram 119 ataques a agências e 567 a caixas eletrônicos. Em 2018, foram, respectivamente, 171 ataques a bancos e 1.025 a caixas eletrônicos. O levantamento engloba 17 instituições financeiras, que respondem por mais de 90% do mercado bancário.
O ciclo de queda teve início em 2000, quando houve 1.903 ocorrências no País. De lá para cá, o número de assaltos vem caindo de forma contínua.
Porém, enquanto as ocorrências em bancos e caixas eletrônicos diminuem, uma nova modalidade criminosa vem apresentando forte crescimento no Brasil: o uso de transferências por aplicativos para sangrar a conta da vítima. Se antigamente havia o sequestro-relâmpago para usar os cartões das vítimas em saques e compras, agora, com a evolução digital, a bandidagem quer apenas alguns “cliques”.
Isso porque os criminosos passaram a incluir, não só nos sequestros-relâmpagos, mas também nos roubos a mão armada, a “solicitação” para que a vítima abra aplicativos bancários e faça transferências por meio da nova ferramenta Pix. Dessa forma, o dinheiro entra imediatamente na conta da bandidagem. A operação é feita durante o assalto.
Segundo dados do governo paulista, desde dezembro do ano passado foram registrados 202 crimes no Estado de São Paulo nos quais as vítimas relataram o uso do Pix por parte dos criminosos durante o roubo.
Para ter uma ideia do crescimento, nos primeiros quatro meses desde o surgimento desse tipo de crime (entre dezembro de 2020 e março de 2021), foram registrados 51 boletins em todo o Estado. De abril a julho, os registros pularam para 151 casos. Segundo os policiais, o uso de transferência pelo Pix por criminosos tem se tornado comum.
Essa explosão de casos foi tão grande que fez o Banco Central (BC) introduzir medidas de segurança no sistema instantâneo de pagamentos. Na mudança mais importante, o limite de transferências entre pessoas físicas, inclusive microempreendedores individuais (MEI), cairá para R$ 1 mil entre 20h e 6h. O novo limite vale tanto para o Pix como para a liquidação de TEDs (Transferência Eletrônica Disponível), para cartões de débito e para transferências entre contas de um mesmo banco.
Em outra mudança, o BC decidiu impedir o aumento instantâneo de limites de transações em pagamentos por meios eletrônicos. Agora, as instituições terão prazo mínimo de 24 horas e máximo de 48 horas para efetivarem o pedido do correntista se feito por canal digital. A medida abrange tanto o Pix, como a TED, o Documento de Ordem de Crédito (DOC), as transferências intrabancárias, cartões de débito e boletos.
As instituições financeiras também passarão a oferecer aos clientes a possibilidade de definir limites distintos de movimentação no Pix durante o dia e à noite, permitindo limites mais baixos no período noturno. Elas também passarão a permitir o cadastramento prévio de contas que poderão receber Pix acima dos limites estabelecidos, mantendo os limites baixos para as demais transações.
Ou seja, a cada inovação dos bandidos, os órgãos reagem para tentar proteger a população. Agora imaginem se essa bandidagem usasse a criatividade para trabalhar e tentar prosperar?!