A reconstrução do São Bento
Os profissionais que vão abraçar a missão de disputar a Copa Paulista, em busca do retorno à Série D, merecem todo o apoio do torcedor
Dono de uma invejável ascensão no futebol paulista e nacional entre 2013 e 2018, quando saiu da modesta Série A3 do Campeonato Paulista para o seleto grupo dos 40 maiores times do País ao alcançar o Campeonato Brasileiro da Série B, o São Bento vive, hoje, o lado oposto da moeda. Após sucessivos rebaixamentos nos últimos anos, o Azulão está sem divisão no futebol nacional. E fora da elite do Campeonato Paulista: rebaixado no primeiro semestre, vai jogar a Série A2 no ano que vem.
O momento, hoje, é de reconstrução, mas também de olhar para trás e compreender por que tantas conquistas importantes se perderam em tão pouco tempo. Começando pela opção por jogadores “caros” e veteranos no Paulistão 2019, como Alecsandro, Tiago Luís e Renan, deu início às sucessivas decepções em campo. No ano anterior, o clube vinha de mudança na diretoria -- o empresário Fernando Martins da Costa Neto deu lugar ao advogado Márcio Rogério Dias na presidência --, e também na comissão técnica, com a substituição de Paulo Roberto Santos, símbolo dos sucessivos acessos conquistados, por Marquinhos Santos -- hoje de carreira consolidada no Juventude, mas então ainda uma aposta.
Não deu certo. O rebaixamento para a Série A2 do Paulista, com a pior campanha de todos os participantes, explodiu também o planejamento da Série B: seis técnicos e 47 contratações depois, o Azulão caiu para a Série C. Descontrole em campo, e também nas finanças. Em 2018, quando o Azulão disputou a Série B pela primeira vez, foram quase R$ 16 milhões de receita e um saldo de quase R$ 785 mil em caixa ao término do exercício. Em 2019, quando as coisas começaram a sair dos trilhos, a receita foi ainda maior (quase R$ 17 milhões), mas o ano fechou com déficit de R$ 1 milhão.
Os ventos pareceram virar em 2020, quando o São Bento engatou recuperação impressionante na Série A2, com as quatro vitórias consecutivas após a chegada do técnico Edson Vieira. Mas aí a pandemia da Covid-19 paralisou todas as competições esportivas na metade do mês de março por mais de quatro meses e a retomada, em agosto, trouxe consigo o início da Série C paralelamente ao desfecho da Série A2. E também um dilema: priorizar o possível retorno à elite do futebol paulista, ou a manutenção no terceiro nível do futebol nacional? Com um elenco reduzido, não haveria como dar conta das duas possibilidades.
A escolha foi pela primeira opção e, consequentemente, não houve tempo para salvar o time no Campeonato Brasileiro. O São Bento voltou à elite do futebol paulista, mas foi rebaixado à Série D no torneio nacional em um ano crítico financeiramente: sem a verba de televisão da Série A1 e da Série B, a arrecadação foi seis vezes menor (R$ 3,02 milhão) em relação a 2019, e as despesas de R$ 5,62 milhões produziram um déficit de R$ 2,5 milhões.
A atual diretoria, presidida pelo empresário Almir Laurindo, foi aclamada no ano passado para comandar o Azulão pelo triênio 2021-2023 com o desafio, de cara, de tentar segurar o time na elite do Paulistão com orçamento reduzido e sem poder contar com qualquer receita de bilheteria -- há 18 meses que os estádios paulistas não recebem público. Com a saída de Edson Vieira e novo rebaixamento à Série A2, retornou o técnico Paulo Roberto Santos, em condições muito parecidas -- ou até piores -- que o início de seu trabalho em 2014. Sim, tudo o que foi conquistado nesse ínterim foi perdido.
Os profissionais que vão abraçar a missão de disputar a Copa Paulista, daqui a dez dias, em busca do retorno à Série D do Brasileiro, merecem o apoio do torcedor pela dificuldade da situação em que o clube foi colocado. Ao mesmo tempo, contudo, é preciso que todos que gostam do São Bento e compõem a “Sorocaba expansiva” cantada no seu hino pensem no seu futuro a médio e longo prazo, dentro e fora das quatro linhas. Os desafios são vários: como descentralizar e profissionalizar a sua gestão; como expandir sua infraestrutura; como valorizar sua marca e utilizá-la para gerar recursos; e, principalmente, como criar e valorizar as categorias de base para formar seus próprios atletas, deixando de depender inteiramente do mercado.
O São Bento já passou por outras crises até mais sérias, chegando à beira do fechamento, e decerto vencerá mais esta também. Mas precisa criar as condições para um futuro mais tranquilo e, principalmente, vencedor.