Atos ruidosos e pacíficos
Os atos desta terça (7), apesar de darem força e fôlego ao presidente Bolsonaro, não resolvem os desafios imediatos do Brasil e dos brasileiros
Contrariando -- felizmente -- a maioria dos prognósticos alarmistas, as manifestações ocorridas nesta terça-feira (7) em diversas capitais e cidades do País levaram milhares de pessoas às ruas e transcorreram em clima pacífico. Diferentemente do alardeado e temido por muita gente, não houve invasão ao STF (Supremo Tribunal Federal), não houve quebra-quebra nem confusão.
Para desgosto da turma do quanto pior melhor, ninguém “tacou fogo” em Brasília. Ainda bem, pois manifestações violentas com cometimento de ilegalidades são absolutamente inadmissíveis e não podem ser toleradas.
O tom da manifestação começou a ser dado já na noite de segunda-feira, quando centenas de veículos, entre eles muitos caminhões, “invadiram” a Esplanada dos Ministérios em Brasília. Com buzinaço e muita gente na rua, os manifestantes não puderam ser contidos pelos policiais responsáveis por alguns bloqueios.
Eles avançaram pela Esplanada de forma barulhenta e marcando presença. Mesmo assim, nada de grave foi registrado nas dezenas de vídeos espalhados pelas redes, mídias sociais e veículos de comunicação.
Já ontem, no próprio dia 7 de setembro, os atos se espalharam por diversas cidades do País. Se em Brasília a manifestação não teve o comparecimento maciço que muita gente esperava, os eventos em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre outras capitais, reuniram bastante gente.
A presença mais marcante foi mesmo na capital do Estado de SP, onde a tradicional Avenida Paulista transformou-se em um mar verde e amarelo, com milhares de pessoas que saíram de casa para apoiar os atos e o governo Bolsonaro.
Conforme matérias deste próprio Cruzeiro do Sul, muitos ônibus e caravanas saíram do interior em direção à capital levando apoiadores das manifestações. Somente de Sorocaba e Votorantim foram, pelo menos, 33 ônibus nessa situação, além de outros veículos.
Em termos de participação e comparecimento, os atos do Dia da Independência foram exatamente o que se esperava deles. Uma manifestação de peso, ruidosa, patriótica.
Os apoiadores de Bolsonaro mostram que, a despeito de tantos problemas enfrentados e equívocos cometidos na condução do País, há uma parcela significativa que apoia o presidente.
São conservadores, de direita, alinhados com o governo federal em muitas coisas. É uma parcela da população que evidentemente merece e precisa ser ouvida.
Apoiadores que não necessariamente concordam com todas as atitudes do presidente, mas que ainda não perderam as esperanças de que mudanças, principalmente as que combatem a corrupção, que é o grande mal deste País, aconteçam.
Não há dúvidas de que a grande maioria da população quer democracia, liberdade de expressão, preservação dos direitos familiares, respeito etc. O ideal é que os atos colocassem um ponto final nesse jogo de ameaças, no cabo de guerra entre Bolsonaro e o STF.
Um dos principais motivos disso também é a insatisfação de boa parcela da população com o Judiciário -- principalmente por conta de decisões mais políticas do que técnicas. É um imbróglio danado. Enquanto isso não for solucionado, corre-se o risco de o País ficar patinando sem sair do lugar.
O ponto principal é que os atos de ontem, apesar de darem força e fôlego ao presidente, não resolvem os desafios imediatos do Brasil e dos brasileiros.
Todos os envolvidos -- sejam da situação ou da oposição -- precisam acordar nesta quarta-feira, arregaçar as mangas e trabalhar para melhorar o País.
É necessário batalhar por uma série de coisas: retomada econômica, controle da inflação, diminuição do desemprego, alimentos mais baratos, diminuição do preço da gasolina, do gás, e por aí vai.
Como bem sintetizou o vice-presidente, Gal. Hamilton Mourão, em postagem feita após os atos, “somos um país jovem e uma democracia plena, fruto das lutas dos nossos antepassados. Sigamos em frente, honrando o legado de liberdade e respeitando nosso povo”.