PIB per capita revela abismo entre cidades
Não está na hora de órgãos como a Agência Metropolitana de Sorocaba e o Conselho de Desenvolvimento da RMS mostrarem para que servem?
Reportagem exclusiva do Cruzeiro do Sul publicada na quinta-feira (20) sobre o PIB per capita dos municípios permite fazer várias leituras interessantes. Baseada nos dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a matéria revela, por exemplo, que nem sempre os municípios detentores das maiores cifras absolutas relacionadas à produção e à população apresentam os melhores índices de produtividade.
É o caso de Sorocaba, que, mesmo responsável por 40% de toda a riqueza gerada pelo conjunto das 27 cidades que compõem a Região Metropolitana em 2019 -- são os dados oficiais mais recentes -- ocupa apenas a quinta posição no ranking do PIB per capita. No entanto, a constatação que mais chama a atenção no levantamento feito pelo repórter Marcel Scinocca refere-se à persistente desigualdade entre os indicadores dos municípios integrantes da RMS.
É pertinente destacar que o Produto Interno Bruto (PIB) é o indicador da riqueza do País -- Estados, regiões e municípios --, refletindo tudo o que se produz no território correspondente durante um determinado período de tempo. Por sua vez, o PIB per capita representa a divisão do valor do PIB pelo número de habitantes do território levado em consideração.
Para muitos especialistas, este é um indicador de precisão limitada, na medida em que indica uma média de renda por pessoa, o que não quer dizer muita coisa. Por exemplo: alguém tem dois carros enquanto o vizinho nenhum, na média cada um tem um carro, o que não é verdade.
Uma medição mais rigorosa do grau de evolução de um determinado território, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), envolve muito mais do que renda, contemplando outras variáveis tão ou mais importantes, a começar por saúde, educação, violência, entre outras.
Porém mesmo restrito, o PIB per capita é infinitamente mais determinante para mensurar e comparar o desenvolvimento de uma região do que apenas o PIB. Simplificadamente, ele traduz a produtividade de uma região: quanto mais elevado o PIB per capita, mais produtivos são os trabalhadores daquela região.
Para se ter uma ideia das dimensões do abismo colossal que ainda separa as economias das cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), basta dizer que o topo do ranking regional do PIB per capita é, simplesmente, superior a dez vezes o valor calculado para o município que detém o menor índice.
Os extremos são ocupados por Araçariguama, onde o PIB anual médio por habitante apurado em 2019 alcançou R$ 153.904,22, e Capela do Alto, com R$ 15.014,46 no mesmo período. Mensalmente, os montantes são, respectivamente, R$ 18.468,50 e R$ 1.251,20. Comparativamente, é como se um cidadão capelense precisasse trabalhar 14,76 dias para produzir o que um morador de Araçariguama produz em apenas 24 horas.
A situação seria menos grave caso os demais 25 municípios da RMS apresentassem PIB per capita próximo à média apurada para o território, que é de R$ 40.618,52. No entanto, as cidades se dividem quase equitativamente nas faixas muito superiores e também nas situadas bem abaixo.
No grupo dos mais produtivos aparecem, logo após Araçariguama, Alumínio, com R$ 115.258,20, Salto -- R$ 65.208,06 --, Porto Feliz -- R$ 56.431,41 -- e Sorocaba, com produtividade de R$ 54.878,75 ao longo de 2019.
Na parte de baixo do comparativo, acima de Capela do Alto, aparecem: Sarapuí, com PIB per capita de R$ 15.472,98, Alambari -- R$ 17.145,55 --, Tapiraí -- R$ 18.965,41 --, Piedade -- R$ 23.365,29 --, São Miguel Arcanjo -- R$ 23.793,90 R$ --, Araçoiaba da Serra -- R$ 24.299,70 --, Pilar do Sul -- R$ 25.490,29 -- e Jumirim, com produtividade de R$ 36.578,45.
Além da disparidade do PIB per capita entre si, uma análise pouco mais aprofundada demonstra que a maioria dos municípios tem sua produção concentrada em poucas ou até mesmo em apenas uma empresa.
Isso acontece entre as campeãs da RMS: Araçariguama tem grande parte do seu PIB concentrado na siderúrgica Gerdau, enquanto Alumínio deve a sua boa produtividade à Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Na parte inferior da tabela, o ponto em comum às cidades é a roda da economia girando em torno da agricultura familiar e dos pequenos e micro empreendimentos.
Por fim, uma visão macro do PIB per capita situa a RMS em um patamar intermediário. Os dados do IBGE mostram a média regional pouco acima do índice nacional, que, dois anos atrás, ficou em R$ 35.161,70, porém, abaixo do rendimento do Estado de São Paulo, calculado no mesmo período considerado em R$ 45.100,00.
Com relação aos “pontos fora da curva” para mais, tanto o município de Sorocaba como o conjunto da região ficam em situação ainda mais desvantajosa. A lista é encabeçada por Presidente Kennedy (ES), onde a produção gira em torno de impensáveis R$ 464.883,49 por habitante.
A vice-campeã é Ilhabela (SP), com R$ 428.020,22. O top quatro do PIB per capita é completado por Selvíria (MS) -- R$ 353.522,30 -- e Paulínia, com R$ 341.552,82. Brasília (DF), cidade com a maior concentração de servidores públicos de todos os poderes do Brasil, também chama a atenção com o seu PIB per capita de R$ 90.742,75 -- 65% maior que o de Sorocaba.
Diante de números tão desproporcionais, está claro que a RMS carece, urgentemente, de ações que visem ao desenvolvimento equilibrado de todos os seus 27 municípios. Não está na hora de órgãos como a Agência Metropolitana de Sorocaba (Agem) e o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba (CRMS) mostrarem para que servem?