Privatizar o meio ambiente requer cuidado

Floresta Nacional de Ipanema e Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar) estão na mira das concessões privadas

Por Cruzeiro do Sul

Floresta Nacional de Ipanema (Fazenda Ipanema), em Iperó.

Nesta semana, tivemos novos capítulos na seara das privatizações no Brasil. Como se sabe, a privatização -- ou desestatização -- é um processo da concessão ou venda de empresas ou instituições do setor público --- que integram o patrimônio do Estado -- para o setor privado. Ela geralmente ocorre por meio de leilões.

Normalmente, os principais objetivos da privatização são obter maior eficiência, reduzir despesas e gerar recursos. Os que se opõem a elas argumentam que toda empresa privada tem como principal foco o lucro, e este, muitas vezes, vai na contramão da necessidade de prover às pessoas serviços fundamentais. Porém, se feita com correção, a privatização pode ser um ótimo caminho para combater o inchaço e a ineficiência do Estado. Contudo, não é algo que possa ser feito de forma indiscriminada ou sem a devida atenção.

Na segunda (7), por exemplo, foi assinado um decreto que inclui alguns parques e florestas no Programa Nacional de Desestatização (PND) do governo federal. Uma delas, inclusive, aqui na região de Sorocaba, a Floresta Nacional de Ipanema. Também foram incluídos o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (RJ); o Parque Nacional da Serra da Canastra e o Parque Nacional da Serra do Cipó, ambos em Minas Gerais; e o Parque Nacional de Caparaó, na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo.

A iniciativa acolheu recomendação do conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). O objetivo é promover a concessão dessas áreas à iniciativa privada para melhorias e execução de serviços de apoio à visitação, com ações de conservação, proteção e gestão. O conselho acredita que a estruturação para receber visitantes trará desenvolvimento econômico às regiões das unidades de conservação. Argumentam também que o aumento do turismo será benéfico, com geração de emprego, renda e desenvolvimento socioeconômico. Por fim, traria aumento da arrecadação de impostos.

As novas unidades de conservação se somam a outras que estão em processo de serem concedidas pelo governo federal e fazem parte de um contrato assinado entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com apoio do Ministério do Meio Ambiente.

Ao todo, o contrato ainda envolve os parques nacionais de Brasília (DF), da Serra dos Órgãos (RJ), da Serra da Bocaina (SP), de Anavilhanas (AM) e do Jaú (AM), além da floresta nacional de Brasília (DF).
O trabalho envolve estudos técnicos contratados pelo BNDES, com previsão de modelagem dos projetos e a preparação do processo licitatório. A realização do leilão ficará a cargo do ICMBio.

Outro local que também está na mira das privatizações -- neste caso pelo governo estadual -- é o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), localizado entre os municípios de Apiaí e Iporanga. São mais de 160 hectares de área ambiental reconhecida até pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimônio mundial, já que abriga parte da Mata Atlântica.

A intenção tem mobilizado ambientalistas, que se colocaram contra a privatização do Petar. Mais de 200 entidades e cientistas divulgaram uma moção em defesa do parque, com o objetivo de evitar que a sua administração passe para a iniciativa privada, por 30 anos, como foi anunciado pelo governo estadual.

Enfim, se a privatização de uma empresa já demanda cuidado, imaginem a de uma unidade de conservação ambiental. É preciso ter em mente que não se trata apenas de uma transferência de gestão. Ela requer estudos técnicos de forma a assegurar a preservação dos recursos naturais.

Nesse sentido, é importante ampla discussão que envolva diversos setores da sociedade civil, em especial as comunidades do entorno. Afinal, são elas que, via de regra, fornecem a mão de obra para esses locais. As comunidades dependem do turismo para a sua sobrevivência. Antes de se bater o martelo dos leilões, é preciso avaliar impactos, ter regras claras de direitos e deveres, e sobretudo garantir a conservação dessas áreas.