Heróis de carne e osso

Heróis e heroínas como Maria Augusta e Diana Tannos circulam por nossas vidas diariamente

Por Cruzeiro do Sul

Natural de Boituva, Diana Tannos trabalhou até os 84 anos e pretender ser voluntária do Museu da PUC.

A literatura, o cinema e a televisão nos ensinaram a torcer sempre pelos heróis. São obras e mais obras de ficção retratando personagens com superpoderes, com habilidades incríveis e com inteligência acima da média. De Spartacus a Zorro, de Tarzan ao Homem de Ferro, passando pelo Batman, pela Mulher Maravilha e uma infinidade de outros exemplos que povoaram nossas mentes e despertaram nossas emoções.

Só que no dia a dia devemos encarar a realidade com outros olhos. E buscar, na sociedade em que vivemos, nossos heróis de carne e osso. Pessoas que transformaram o mundo com gestos bastante simples, recheados de caráter e honestidade. Nem sempre a ação precisa ser grandiosa, ou espalhafatosa, para produzir efeito.

É o caso da médica Diana Tannos, retratada na edição de domingo (24) do jornal Cruzeiro do Sul. Aos 93 anos, a Dra. Tannos recebeu, no dia 11 de abril, a Honraria Maria Augusta Generoso Estrela, uma homenagem criada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

Antes de falarmos da Dra. Tannos, seria bom relembrar um pouco da nossa história. E falar de uma heroína dos tempos do Império. Maria Augusta Generoso Estrela foi a primeira médica brasileira. Nascida no Rio de Janeiro em 1860 se interessou pela medicina ainda criança. Quando tinha 13 anos e voltava de uma temporada de estudos em Portugal, pátria de seus pais, o navio em que viajava se envolveu num acidente. Augusta, sem pestanejar, ajudou a atender e a salvar a vida de tripulantes e passageiros feridos. Sua bravura foi reconhecida não só em Portugal, mas também na Inglaterra. Um ano depois, já cursando um colégio no Brasil, descobriu que uma menina havia concluído o curso de medicina em Nova York. Decidiu, com o apoio do pai, lutar por esse direito. Enfrentou muitos percalços até se formar, aos 19 anos, nos Estados Unidos.

Maria Augusta exerceu a profissão por muitos anos e atendia principalmente crianças e mulheres, além de ajudar gratuitamente pessoas vulneráveis. Um símbolo de uma era.

Voltando aos dias de hoje, reconhecemos na Dra. Diana Tannos essa mesma garra. Ela ingressou na primeira turma da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade (PUC) de Sorocaba, se formou e por lá trabalhou durante 57 anos.

No momento da formatura recebeu, do pai, um conselho que carrega até hoje: na profissão é preciso fazer o nome e não fazer dinheiro. E foi isso que a motivou durante toda a carreira. “É na família que a gente recebe os valores principais da vida”, disse Diana à reportagem.

Atualmente aposentada, Diana Tannos pretende voltar à ativa. Quer transmitir seus conhecimentos como voluntária do Museu da PUC e deixar registrado um pouco da história que viveu desde o início da Faculdade de Medicina, em Sorocaba.

Com bastante otimismo, ele elenca uma série de dicas para se manter longeva e ativa. “Aprendi com a minha mãe a nunca reclamar de nada na vida. Quanto mais reclama, mais fica pesado”, conta a médica. “Tenham boas conversas, boas leituras e bons amigos. Ainda tem que ter fé e lembrar que existe um Deus que nos ama e que está sempre conosco”, concluiu Diana Tannos.

Essa é a essência da vida. Escolher a profissão certa, se dedicar a ela independentemente dos ganhos financeiros e do status e manter os princípios e valores morais repassados de geração em geração. Devemos ouvir e aprender com as vozes do passado para evitar que erros cometidos se repitam e aproveitar as experiências que deram bons resultados para edificar um futuro mais promissor.

Heróis e heroínas como Maria Augusta e Diana circulam por nossas vidas diariamente. Nem sempre percebemos o trabalho silencioso que eles desenvolvem. Nem sempre reconhecemos a importância desses gestos. E é nosso dever, como cidadãos, valorizar e enaltecer essas pessoas que ajudam a construir uma sociedade melhor.