A lição que vem do Chile
Os chilenos disseram, em alto e bom som, que se recusavam a aceitar mudanças tão radicais
As eleições brasileiras estão chegando e tem muito eleitor indeciso pensando em votar em branco ou anular o voto. Outros ainda, mais radicais, pensam em nem comparecer às urnas e simplesmente justificar a ausência. No Brasil, o voto é obrigatório, mas como a punição para quem não cumpre a lei é branda, muitos optam por desrespeitá-la. Já votar branco ou nulo é um direito, mas o cidadão tem que estar consciente que sua atitude transfere para outro o rumo do seu próprio futuro.
Um caso emblemático é o que vive o Chile. Lá o voto é facultativo e muita gente deixou de exercer seu direito por comodismo e desinteresse. Só que segmentos mais organizados da esquerda tomaram as rédeas do processo e elegeram, em 2019, uma Assembleia Constituinte que queria mudar radicalmente os rumos do país. Criaram uma nova Constituição que previa o fim do Senado, a liberação do aborto, limitava o direito ao uso da água nas propriedades privadas e muito mais. Foram três anos de trabalho e muito gasto público para criar um documento que praticamente inviabilizaria o crescimento e o desenvolvimento do Chile.
A sociedade chilena, ainda que tardiamente, reagiu a essas propostas com claro viés ideológico e que, na verdade, em nada representavam a média do pensamento da população. Resultado, a nova Constituição foi rejeitada pela maioria.
No domingo passado (4), os chilenos disseram, em alto e bom som, que se recusavam a aceitar mudanças tão radicais propostas por um grupo que não representa o povo, apesar de ter sido eleito. Mais de 60% da população votou contra a nova Constituição. A derrota atinge diretamente o recém-empossado presidente Gabriel Boric, que gastou boa parte do seu capital político na tentativa de convencer o povo chileno a aprovar tamanha aberração.
Fechadas as urnas, ficou clara a falta de sintonia entre o governo de esquerda e a vontade da sociedade. Coube às autoridades do governo reconhecer a derrota acachapante.
A nova Constituição substituiria a Carta de 1980, imposta na época da ditadura de Augusto Pinochet. Ela era crucial para as reformas prometidas por Boric, que agora vai ter que governar com as regras escolhidas pelo povo.
A esquerda chilena ainda não se deu por vencida e agora articula a elaboração de um novo texto ainda sem data de ser apresentado e sem a certeza de que, dessa vez, sairá vitorioso. “Precisamos abrir um diálogo sobre como continuar o processo constituinte”, disse o derrotado presidente Boric.
A nova Carta era tão ruim que despertou a ira até de políticos de centro e de centro-esquerda, entre eles os ex-presidentes Ricardo Lagos, um socialista, e Eduardo Frei, um democrata cristão. Ambos rejeitam tanto a Constituição de Pinochet quanto a nova proposta e defendem que o processo constituinte siga após o referendo.
Entre os líderes políticos que não devem hipotecar apoio a um novo processo está o líder da direita José Antonio Kast, derrotado por Boric na eleição presidencial. “Temos uma nova chance de reconquistar a nossa pátria. Eu li várias vezes o rascunho do texto constitucional e ainda não entendi nada”, disse Kast logo após votar, em Santiago.
Kast se refere não só ao tamanho do texto constitucional -- com cerca de 400 artigos --, mas também à linguagem confusa que garante direitos sem detalhes práticos. O documento menciona o termo “gênero” 39 vezes. As decisões judiciais, a polícia e o sistema de saúde teriam de funcionar com uma “perspectiva de gênero”, que não é definida.
O Chile é um bom termômetro de como as coisas podem se transformar no Brasil dependendo de quem seja eleito em outubro. A sociedade vai ter que decidir que tipo de país quer para o futuro. Para que isso ocorra cada voto é importante. Não permita que outros decidam por você. Analise cada proposta apresentada, o histórico de cada um dos candidatos e as pessoas e ideias que o acompanham. Vote. Escolha uma das opções. Só assim você terá certeza que fez sua parte na hora de lutar por um Brasil melhor.