O aprendizado contido nos números do Censo

A cidade é hoje dos grandes polos de atração populacional do interior de São Paulo

Por Cruzeiro do Sul

O fluxo de nordestinos para São Paulo e Rio de Janeiro, aos poucos, foi diminuindo

Dentro de mais algumas semanas, teremos o resultado atualizado do Censo 2022. O que se sabe, de antemão, é que mudanças significativas ocorreram deste o último grande levantamento. As correntes migratórias que predominaram nas décadas de 1970 e 1980 se transferiram para outras regiões do País. O fluxo de nordestinos para São Paulo e Rio de Janeiro, aos poucos, foi diminuindo.

Essas populações que lutavam contra a seca e deixavam seu local de nascimento em busca melhor oportunidade de trabalho nos grandes centros urbanos, agora preferem se deslocar para áreas do Norte e do Centro-Oeste onde o agronegócio cresce vertiginosamente.

Nessas regiões, além da boa condição de trabalho e de salário, há qualidade e vida e possibilidade de crescimento bem maior que num subemprego numa grande metrópole. As capitais também sofreram severas baixas nos últimos anos, principalmente após o início da pandemia da Covid-19.

Muitas pessoas trocaram a agitação e os altos índices de violência por municípios de menor porte e de boa infraestrutura no interior. É nesse cenário que Sorocaba se encaixa.

A cidade é hoje dos grandes polos de atração populacional do interior de São Paulo. Com um parque industrial expressivo e diversificado, um comércio forte e um grande número de prestadores de serviço, o município atrai tanto pelas oportunidades de trabalho como pela chance de recomeçar a vida num ambiente menos hostil e violento que o registrado nas grandes capitais.

Por conta disso, Sorocaba está entre os municípios da região metropolitana que tiveram índice de crescimento populacional mais elevado nos últimos anos, segundo a prévia do Censo 2022, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de habitantes de Sorocaba, desde a pesquisa realizada em 2010, aumentou cerca 25%.

De acordo com o Censo de 2010, o último registrado pelo IBGE, Sorocaba contava com 586.625 habitantes. Na prévia de 2022, divulgada no dia 28 de dezembro do ano passado, a população aumentou para 738.128. Os dados mais recentes mostram que mais de 150 mil pessoas passaram a viver no município em pouco mais de uma década.

A cidade foi beneficiada por dois movimentos distintos e complementares. O primeiro foi o aumento significativo no número de cursos universitários oferecidos. Só a Universidade de Sorocaba (Uniso) possui atualmente mais de dez mil alunos, somados os cursos de graduação e de pós-graduação. O campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) atrai outro tanto, sem contar as diversas universidades e faculdades particulares que se instalaram mais recentemente.

Esse afluxo de jovens, que muitas vezes permanecem na cidade mesmo após a formatura, foi preponderante para que a oferta de mão de obra especializada fosse abundante na cidade, atraindo o interesse de empresas dos mais diversos segmentos.

O segundo movimento foi a criação da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) que ajudou a aumentar a visibilidade do município perante as outras regiões do Estado e mesmo do País. Essa liderança assumida por Sorocaba facilitou a entrada cada vez maior de recursos púbicos e de investimentos privados.

Ao mesmo tempo que Sorocaba cresceu, outras cidades da RMS, com vocação mais ligada à agricultura, acabaram perdendo população. Piedade, por exemplo, do Censo de 2010 para o atual, caiu de 52.143 para 51.542 habitantes.

Em entrevista publicada pelo jornal Cruzeiro do Sul de 7 de janeiro, a arquiteta e urbanista Sandra Lanças, responsável pelo planejamento técnico da Agência Metropolitana de Sorocaba (Agem), explica um pouco como funciona esse fenômeno.

“Em termos de análise, observa-se que as cidades que registraram decréscimo são regiões de campo. Os jovens originários desses locais migram de áreas rurais para urbanas. Isso é uma tendência. Eles vão para onde há crescimento, oferta e procura de emprego, universidades”, analisa Sandra.

Como se pode concluir, Sorocaba tem tido papel de destaque na organização da RMS. O progresso da cidade ajuda a promover o crescimento dos outros municípios vizinhos. O importante, nesse momento, é estarmos preparados para acompanhar todo esse afluxo de pessoas. Para, no futuro, não sermos substituídos por outros centros que ofereçam melhor qualidade de vida para suas populações.