Pão-pão, guerra-guerra

Como se pode notar, a disputa territorial da Ucrânia não afeta apenas políticos, soldados e a população local

Por Cruzeiro do Sul

Alemanha anuncia envio de armas e munições à Ucrânia

No dia 24 de fevereiro, semana que vem, a invasão russa à Ucrânia completa um ano. O conflito está longe de se resolver e o ingresso de novas armas, oferecidas por nações do Ocidente aos ucranianos, tende a aumentar a temperatura do conflito.

A Alemanha anunciou, ontem (15), que pretende enviar ‘meio batalhão‘ de tanques Leopard 2 para a Ucrânia em março. A ideia é suprir as ofertas feitas por outros países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que enfrentam dificuldade em cumprir a promessa de blindados feita ao presidente Zelensky no início do ano.

Além do número de vítimas dos ataques sistemáticos, a guerra acaba interferindo em todo o mundo. Rússia e Ucrânia são grandes produtores de alimento e o confronto acaba afetando a produção e o comércio, principalmente de grãos.

Vital para evitar uma crise mundial de alimentos, o acordo sobre as exportações de grãos ucranianos está em uma situação ‘difícil‘. O alerta foi feito, ontem, pela Organização das Nações Unidas (ONU), embora a entidade acredite em sua prorrogação em 18 de março. Assinado em julho de 2022 entre a ONU, a Ucrânia, a Rússia e a Turquia, o pacto permitiu conter a crise alimentar causada pela invasão russa da Ucrânia.

Em meados de novembro, foi prorrogado por 120 dias e deve voltar a ser renovado em 18 de março, explicou o chefe de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, em uma entrevista em Genebra.

‘Antes da última prorrogação, expressei uma certa confiança de que isso seria feito, mas acho que estamos diante uma situação um pouco mais difícil neste momento‘, disse ele, ressaltando que o acordo ‘funciona em conjunto‘ com o pacto entre a ONU e a Rússia sobre as exportações dos fertilizantes russos.

Griffiths explicou que o segundo acordo, também assinado em julho de 2022 com duração prevista de três anos, ‘é muito mais complicado‘ de administrar do que o de grãos, mas que ‘é importante que funcione, é importante trazer os fertilizantes russos‘.

Moscou reclama que suas exportações de fertilizantes - um produto de primeira necessidade para a agricultura mundial - estão bloqueadas, embora não se vejam afetadas pelas sanções impostas por países ocidentais desde o início da guerra.

Griffiths insistiu, no entanto, em que deseja ‘esperar e acreditar‘ que o acordo de grãos será renovado em meados de março. Até agora, o acordo permitiu que quase 20 milhões de toneladas de grãos chegassem a milhões de pessoas em todo o mundo.

Uma crise no abastecimento mundial de grãos poderia ser favorável ao agronegócio brasileiro. A safra deste ano promete ser recorde, de acordo com os últimos levantamentos oficiais. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a previsão é que o País produza 310 milhões de toneladas. O resultado aponta um aumento de 38 milhões de toneladas em relação à temporada anterior.

A notícia só não é melhor para o Brasil porque Rússia e Ucrânia são grandes fornecedores mundiais de trigo e esse cereal os nossos agricultores não tem capacidade de suprir. Muito pelo contrário, o Brasil é grande importador desse insumo tão necessário para a produção de pão, massas e outros tantos alimentos sempre presentes em nossas mesas. Com a escassez no mercado, provocada pela guerra, é enorme a chance da cotação do trigo subir e isso pode gerar, inclusive, reflexos na taxa de inflação aqui do Brasil.

Como se pode notar, a disputa territorial da Ucrânia não afeta apenas políticos, soldados e a população local. Ela extrapola fronteiras e atinge também quem está a milhares de quilômetros dos bombardeios. Incentivar a escalada bélica do conflito não vai ajudar, em nada, a assinatura de um acordo de paz. Enquanto essa lógica não for compreendida, todos sofremos os efeitos desse combate.