Exploradores do caos devem ser punidos
A ganância em tempos de crise como essa que vive a população do litoral norte deve ser combatida
A situação no litoral norte de São Paulo ainda é grave. A região, fortemente atingida por um temporal acompanhado de ventos fortes no último domingo (19), ainda precisa de muita atenção do poder público.
Casas foram danificadas, estradas destruídas e muita gente perdeu tudo que tinha. O trabalho de reconstrução vai ser lento e demorado. Isso sem contar que há a possibilidade de novos temporais castigarem a região provocando mais danos.
Diante desse quadro de tragédia, o governo do Estado de São Paulo montou uma força-tarefa para acelerar o processo de recuperação das cidades e dar algum alento a quem mais sofreu.
Além disso, milhares de pessoas estão enviando doações para socorrer os mais afetados pelas enchentes. Só o Fundo Social de Solidariedade de Sorocaba já arrecadou mais de cinco toneladas de produtos para a região.
O problema é que, mesmo num cenário de caos, algumas pessoas tentam tirar proveito e lucrar com a situação. Vários relatos, impressionantes, foram coletados nos últimos dias. Um dos mais terríveis foi informado pelo próprio governador Tarcísio de Freitas.
Tarcísio disse, durante uma entrevista, que veículos com doações a moradores do litoral norte paulista atingidos pelas chuvas têm sido alvo de roubos. “Estão saqueando caminhonetes com mantimentos doados. Coloquei o Choque (Batalhão da PM) para acabar com isso”, afirmou o governador.
E não é só esse tipo de crime que está ocorrendo na região. Outro motivo para o reforço no policiamento local, segundo o Estado, é o alto número de casas que tiveram de ser abandonadas diante do risco de novos deslizamentos.
Esses imóveis, abandonados às pressas, podem tornar-se alvo fácil de ladrões que procuram invadir as residências para saquear qualquer coisa de valor. Um verdadeiro ato de pilhagem num momento que deveria haver solidariedade, empatia e compaixão.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que, até agora, não houve registros de boletim de ocorrência relativos a saques nos locais afetados.
“O que aconteceu foi que moradores da região falaram diretamente para o governador, que foi até o local, que estavam preocupados e com medo da casa ser saqueada”, disse. Esse receio surgiu, segundo ele, porque mais de mil moradores da Barra do Sahy, em São Sebastião, tiveram de ser alojados no Instituto Verde Escola por questão de segurança.
“O que existe por parte da população é uma preocupação: primeiro, de que a casa seja saqueada. E, segundo, a gente entende também essa certa resistência de alguns, de não querer sair da residência”, prosseguiu Derrite.
Mas não é só o risco de saques que preocupa a população. Alguns comerciantes decidiram aproveitar a tragédia para faturar alto. Galões de água que eram vendidos por R$ 20,00 passaram a custar R$ 80,00. E teve caso ainda pior, como relatou o repórter da TV Globo, Walace Lara.
Ele chorou ao vivo, durante um dos telejornais da emissora, depois de ouvir um relato de que alguns comerciantes chegaram a vender um litro de água por R$ 93,00. O caso teria ocorrido em São Sebastião, uma das cidades mais atingidas pelo temporal.
“É difícil ouvir um depoimento como a gente ouviu agora e não se emocionar. Cobrar R$ 93 em um litro de água na situação em que nós estamos aqui é inacreditável. Há gestos de solidariedade muito maiores do que esse de ganância que a gente viu agora”, disse o repórter indignado.
A ganância em tempos de crise como essa que vive a população do litoral norte deve ser combatida, da mesma maneira que não se pode relevar a ação de bandidos que saqueiam veículos que transportam donativos para as comunidades afetadas.
Em muitos casos, famílias pobres de outras regiões abriram mão de parte de sua comida e de seus pertences para ajudar a quem mais precisa. E não é justo que ações solidárias como essas acabem nas mãos de aproveitadores.
Gente que se beneficia do sofrimento dos outros para levar vantagem merece a mais severa das punições. Não há desculpa, dentro da sociedade civilizada, para esse tipo de atitude. A esperança, agora, é de que tudo se resolva da maneira mais rápida possível e que quem foi prejudicado receba o devido conforto.