A História em movimento

Manter a obrigatoriedade do uso de máscaras em aviões e aeroportos era uma grande hipocrisia

Por Cruzeiro do Sul

Não é mais obrigatório o uso de máscaras em aeroportos do Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) derrubou ontem, 1º de março, a exigência de máscaras em aeroportos e aeronaves no Brasil como forma de prevenção contra a Covid-19. Apesar da mudança de posição, a agência federal mantém a recomendação de uso. A medida foi tomada depois de um pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM).

A decisão da Anvisa ocorre uma semana depois do fim do Carnaval. Como se cansou de ver, em toda a mídia, foram cinco dias de festa com blocos, shows e bailes arrastando multidões, com muita aglomeração e nenhuma proteção. Para esse tipo de evento, em momento algum, a agência aventou a possibilidade de exigir o acessório. Manter a obrigatoriedade do uso de máscaras em aviões e aeroportos era uma grande hipocrisia, diante das outras cenas que corriqueiramente assistimos em todo o País.

Ao propor a medida, o CFM se baseou em uma revisão de estudos internacionais publicada na “Cochrane Library”, cuja principal conclusão é de que a proteção facial não teria impacto significativo na proteção contra o coronavírus, nem contra outros vírus presentes frequentemente no ar que respiramos. Alguns cientistas brasileiros criticaram o estudo e apontaram algumas fragilidades no método utilizado. Segundo eles, os resultados são questionáveis, embora não apresentem nenhuma outra pesquisa que aponte em direção contrária. O excesso de achismo que contaminou todo o período da pandemia parece ainda estar incrustado na mente de nossos cientistas. Muitos deles devem ter vergonha de admitir os erros que cometeram em suas avaliações catastróficas durante os anos de enorme sofrimento de milhões de brasileiros.

O estudo em que se baseia a posição do Conselho Federal de Medicina foi publicado em 30 de janeiro. O trabalho revisa dados de outros 12 estudos e é assinado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido. A principal conclusão da revisão é que a máscara faz “pouca ou nenhuma diferença” como política de saúde pública destinada a evitar a disseminação de vírus respiratórios. O estudo reascendeu a polêmica que provocou intensos debates desde o início da pandemia.

Em um artigo assinado pelo jornalista conservador Bret Stephens e publicado no New York Times na semana passada essas divergências voltaram a se acentuar.

“Quando se trata dos benefícios do uso de máscara em nível populacional, o veredito é: o uso obrigatório foi um fracasso”, escreveu Stephens. “Os céticos que foram furiosamente ridicularizados e ocasionalmente censurados como ’desinformantes’ estavam certos. Os principais especialistas que incentivaram as máscaras estavam errados. Em um mundo melhor, caberia a este último grupo reconhecer o erro, juntamente com seus consideráveis custos físicos, psicológicos, pedagógicos e políticos”, concluiu o jornalista.

Antes mesmo de o artigo do jornalista Bret Stephens ter sido publicado, o CFM já havia destacado a importância do estudo de Oxford em ofício enviado à Anvisa, no dia 13 de fevereiro: “Ao final, conclui-se que, diferentemente do que ocorre no contexto de profissionais de saúde em ambientes hospitalares usando equipamentos de alto nível, não há justificativa científica para a recomendação ou obrigatoriedade do uso de máscaras pela população em geral como política pública de combate à pandemia de Covid-19.”

O apelo da entidade médica foi atendido e a Anvisa retirou, ainda que tardiamente, a obrigatoriedade do uso da máscara nos aviões e aeroportos. Mesmo assim alguns de seus técnicos ainda defendem o acessório.

O diretor da Anvisa, Alex Campos, terceiro a votar na reunião de ontem, reforçou que as máscaras continuam sendo importantes no combate à pandemia. Segundo ele, a proteção segue recomendada para pessoas com sintomas respiratórios.

Aos poucos a Ciência, com C maiúsculo, vem provando que vários procedimentos adotados durante o período mais nefasto da Covid-19 foram inúteis ou ineficazes. Até a origem do vírus começa a ser colocada em prova por autoridades americanas, que voltaram a responsabilizar a China pela disseminação da doença. Muita coisa ainda precisa ser passada a limpo e a história da pior pandemia do século XXI ainda será reescrita muitas vezes.