Ainda dá tempo de salvar o ano
Entre os inadimplentes, 44% têm dívidas atrasadas por mais de 90 dias. O tempo médio de atraso nos pagamentos foi de 62,7 dias
O número de famílias endividadas aumentou, este ano, no Brasil. De janeiro para fevereiro, o crescimento foi de 0,3 ponto porcentual. Essa alta acaba com um período de dois meses de estabilidade. Os dados foram divulgados na quarta-feira, 8, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), 78,3% das famílias brasileiras têm, atualmente, algum tipo de dívida em atraso. Na comparação com fevereiro de 2022, o crescimento foi de 1,7 ponto porcentual.
A alta de fevereiro foi puxada, de acordo com a pesquisa, pelos “vencimentos de despesas típicas do primeiro trimestre (tributos, despesas escolares e contribuições para órgãos de classe, entre outras)”.
A CNC destacou que o resultado só não foi pior graças às medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro, no ano passado. A melhora do mercado de trabalho, garantindo mais renda para as famílias, e o alívio na inflação acumulada nos últimos 12 meses foram vitais para impedir que mais famílias se tornassem inadimplentes.
Em fevereiro, 29,8% das famílias entrevistadas pela Peic relataram ter dívidas em atraso. Na comparação com fevereiro de 2022, há um aumento de 2,8 pontos percentuais. O cenário pode ficar ainda pior nos próximos meses. Especialistas que analisaram os números da pesquisa, não encontraram sinais que permitam afirmar, a curto prazo, que essas famílias já endividadas conseguirão reverter esse quadro.
“Quem tem dívidas mais antigas segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência, em função dos juros elevados. A proporção de consumidores sem condições de pagar dívidas atrasadas de meses anteriores chegou a 11,6% do total, estável em relação a janeiro, mas a proporção mais alta desde outubro de 2020”, explica o relatório da CNC.
Entre os inadimplentes, 44% têm dívidas atrasadas por mais de 90 dias. “O tempo médio de atraso nos pagamentos foi de 62,7 dias, o maior desde janeiro de 2021”, segundo o relatório da CNC.
Ainda conforme a entidade, a alta da proporção de endividados em fevereiro foi puxada pelas famílias com renda superior a três salários mínimos. Entre as famílias mais pobres, que ganham até no máximo três salários mínimos por mês, a proporção de endividados até caiu um pouco, 79,2% em janeiro para 79,0% em fevereiro.
Já entre os entrevistados com rendimentos de três a cinco salários mínimos por mês, houve aumento de 78,8% para 79,4%. São exatamente essas classes sociais, com renda média, as mais atingidas pelas despesas extras de início de ano.
Mesmo diante de várias iniciativas e programas de renegociação de dívidas, a cada 100 consumidores inadimplentes, 44 chegaram a fevereiro com dívidas atrasadas por mais de 90 dias. O Auxílio Brasil, distribuído ano passado, foi fundamental para que um contingente menor de famílias pobres entrasse no endividamento.
“Os programas de transferência de renda mais robustos têm suportado os orçamentos desses consumidores com menores rendas mensais. Na comparação anual, porém, o volume de famílias com dívidas atrasadas aumentou em todas as faixas de rendimentos”, explicou Izis Ferreira, responsável pela pesquisa.
O que se nota, desde janeiro, é que a mudança abrupta na forma de gerenciar a economia do Brasil está causando uma série de problemas. A descentralização das decisões, ocorrida após o fatiamento do ministério da Economia, está atrasando medidas importantes.
O mercado financeiro, as empresas e as famílias, que dependem de um cenário mais seguro, sofrem diante de tanta indefinição. Muitos analistas, que previam um crescimento fraco para o País este ano, na casa de 0,8%, já começam a mudar de posição e apostar numa recessão.
Cada dia que passa, a situação se complica. O Brasil precisa urgentemente voltar para os trilhos, a tempo de salvar o ano de 2023.