Em busca de soluções para o desequilíbrio climático

O desafio é encontrar o equilíbrio sem afetar, principalmente, as populações mais carentes

Por Cruzeiro do Sul

Estragos causados pela chuva

O primeiro trimestre de 2023 tem sido marcado por chuvas fortes e constantes em boa parte do Estado de São Paulo. Neste início de ano já foram registradas cenas impressionantes como as ocorridas no litoral norte e que resultaram em dezenas de mortes e muita destruição. A Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) também está na rota desses temporais. Semana após semana somos surpreendidos com precipitações pouco vistas nas últimas décadas. Com o crescimento urbano, muitas vezes desordenado, este aumento súbito na quantidade de chuva quase sempre acaba produzindo caos e muito prejuízo.

Foi o que se viu, na tarde de sexta-feira (10), em Sorocaba. Em instantes, as nuvens negras cercaram a cidade e, impiedosamente, descarregaram milhões de litros de água. O solo impermeabilizado pelo asfalto e pelas construções não conseguiu escoar todo esse volume e a água acabou acumulada em vários pontos da cidade.

Regiões importantes, como as que abrigam os dois maiores terminais de ônibus urbanos da cidade, foram as mais atingidas. O transporte público entrou em colapso. Muitas linhas de ônibus deixaram de circular ou tiveram seus trajetos interrompidos. Percursos que normalmente levam cerca de quinze a vinte minutos para serem percorridos tiveram seus tempos de deslocamento triplicados. Foram horas de preocupação e até de desespero para algumas pessoas.

Uma das imagens mais emblemáticas, registradas pelo jornal Cruzeiro do Sul, foi a da mulher ilhada em seu veículo, no meio da avenida Dom Aguirre, a poucos metros da ponte da rua XV de Novembro, no coração da cidade. Com o veículo encoberto pela água, ela viveu momentos de terror e de incerteza até que o resgate a salvasse. Uma história com final feliz na mesma semana em que uma senhora morreu afogada dentro do próprio veículo em Moema, um dos mais nobres bairros da capital paulista.

Por toda Sorocaba, os relatos de problemas circularam com a mesma velocidade que a chuva chegou. Motoristas que estavam próximos à praça da Bandeira, no Centro, também enfrentaram dificuldades com o acúmulo e água nas pistas. Sem ter para onde fugir, muitos passaram horas no veículo à espera de uma trégua dos céus. Pelo menos 12 bairros do município registraram pontos de alagamento.

De acordo com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), o nível do rio Sorocaba subiu 2,30 metros acima do normal. A vazão da represa de Itupararanga para o rio estava em 29,5 metros cúbicos por segundo. A Defesa Civil informou que, na sexta-feira à tarde, foram registrados volumes próximos de 70mm de chuva em alguns bairros. Isso equivale à quantidade esperada para quase uma semana de precipitações, segundo os meteorologistas.

Mesmo com toda a chuva, a boa notícia é que a cidade, apesar dos transtornos no trânsito, se mostrou preparada para enfrentar situações como esta. Não houve registros de desabamentos e nenhuma pessoa ficou desabrigada nem desalojada. Poucas horas depois que a chuva cessou, a vida da maioria dos cidadãos voltou à normalidade. Resta saber quanto tempo essa trégua vai durar.

Ao mesmo tempo em que São Paulo enfrenta um verão muito chuvoso, os municípios do Rio Grande do Sul atravessam uma seca bastante severa. Mais de 370 municípios estão em situação de emergência por causa da estiagem, que começou em dezembro. Plantações correm o risco de sofrer perda total. O tamanho do prejuízo para a safra de soja e de arroz ainda nem pode ser calculado. O abastecimento de várias cidades está à beira do colapso e pouca coisa se pode fazer para resolver esse problema. A seca severa também atinge os Pampas argentinos, o que tem aprofundado a crise do país na exportação de grãos. O temor de inadimplência cresce e coloca em risco as metas acordadas pelos argentinos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Esse desequilíbrio climático vem se intensificando ano a ano. As mais diversas regiões têm enfrentado, com uma frequência cada vez maior, os avisos e alertas da natureza. É claro que alguma coisa está fora do lugar em temos planetários. Corrigir o rumo dessa situação é vital para a agenda dos líderes de todo o mundo. O desafio é encontrar o equilíbrio sem afetar, principalmente, as populações mais carentes. Até lá, dias como o vivido na sexta-feira em Sorocaba terão que ser encarados como um preço justo a se pagar pelo progresso do País.