A onda dos estelionatos digitais

As ferramentas para aplicação dos golpes são novas, mas a forma de atração das vítimas, não

Por Cruzeiro do Sul

Moeda digital tinha se valorizado em abril.

A história envolvendo o jogador de futebol Gustavo Scarpa e um prejuízo milionário com investimentos em moedas digitais, trouxe à tona novamente os casos de estelionatos digitais. Prometendo ganhos e vantagens tão atraentes que deveriam levantar o alerta dos mais avisados, esta nova classe de golpista vem crescendo e fazendo um enorme número de vítimas.

No caso do jogador, ele foi convencido pelo então colega de time Willian Bigode, em 2020, a investir R$ 6 milhões em criptomoedas. Valor que não conseguiu reaver quando tentou fazer um resgate parcial, em agosto do ano passado. A promessa era de rendimento mensal médio de 5%, valor muito acima do praticado pelo mercado. Para se ter uma ideia, agora em março, os valores depositados em poupança receberão juros médios de 0,74%.

Impossível não reconhecer as facilidades e comodidades trazidas com o acesso a serviços bancários por meio dos aparelhos eletrônicos. É inegável, porém, que essas mesmas ferramentas também “beneficiaram” a ação de criminosos e quadrilhas digitais. Quem não conhece uma vítima do cada vez mais famoso “golpe do Pix”?

As ferramentas para aplicação dos golpes são novas, mas a forma de atração das vítimas, não. Os estelionatários, via de regra, oferecem alguma vantagem para a vítima. Essa vantagem pode ser um rendimento acima ou preços mais baratos do que o praticado pelo mercado.

Porém, os criminosos digitais não agem apenas com a prática de estelionatos. Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil desmantelou uma quadrilha no Rio de Janeiro que aplicava golpes por meio do WhatsApp e outras redes sociais. Foram presas 14 pessoas, sendo necessário um ônibus para transportar os operadores do que foi classificado como um “call center do crime”. Neste caso, os falsários ligavam para as pessoas se passando por funcionários de agências bancárias, conseguiam os dados pessoais e faziam empréstimos no nome das vítimas, que nunca recebiam o dinheiro.

Diante deste novo cenário, imperioso é o desenvolvimento de formas de coibir a ação dessas gangues que colocam em risco a confiança em todo o sistema bancário nacional. Já que sem uma batalha judicial, não há garantia de reaver os valores levados pelos falsários, ainda que as transações tenham sido feitas via internet. E mesmo na esfera judicial, o entendimento sobre o assunto ainda não gerou uma unanimidade, tendo casos em que a vítima consegue o direito de receber uma indenização da instituição bancária. Nestes casos, o entendimento é que a omissão da instituição, que permitiu o uso de sua estrutura para a aplicação de golpes, contribui para a prática do crime. Em outros casos, porém, o golpe é tão bem praticado, que até mesmo os bancos são considerados como vítimas dos falsários.

A agilidade dos criminosos impressiona, é verdade. Ela, porém, não afasta a possibilidade de rastrear o dinheiro levado pelos estelionatários. Esse é um novo desafio para as autoridades, já que é cada vez maior o número de vítimas.

Às pessoas fica o alerta sobre o perigo que mora do outro lado da tela. O comportamento do consumidor ou investidor deve ser sempre o de desconfiança. Pesquisar sobre a empresa em sites e serviços de proteção ao consumidor, buscar relatos de outras pessoas que realizaram contratações semelhantes e, acima de tudo, sempre avaliar o preço e condições do mesmo produto ou serviço praticados pelo mercado. Isso porque, como já diz o dito popular, “quando a esmola é demais, o santo desconfia”.