As ondas do progresso

O poder público acaba tendo pela frente uma equação difícil de resolver: como equilibrar o planejamento urbano com a expansão imobiliária e empresarial?

Por Cruzeiro do Sul

Documento alerta para perigos da alta taxa de urbanização e redução das áreas verdes, além do custo social de determinados empreendimentos. Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (17/7/2018)

Sorocaba completa, em 15 de agosto, 369 anos de fundação. Desde a chegada dos bandeirantes, liderados por Balthazar Fernandes, a cidade experimentou diversos períodos de crescimento populacional e de progresso. Cada ciclo que se inicia é marcado pela expansão de uma determinada região da cidade.

Nos primórdios, o eixo de desenvolvimento acompanhava o traçado do rio Sorocaba e de seus afluentes. As comunidades iam se instalando nesses pontos e criando pequenas vilas, que aos poucos se tornaram bairros. No ciclo do tropeirismo, o progresso migrou para a rota usada para o transporte de mulas do sul do País até Sorocaba. Os pousos concentravam pessoas interessadas em aproveitar os ganhos gerados pela movimentação dos muares.

Com a chegada da ferrovia, a situação se repetiu e as estações de parada dos trens acabaram atraindo um número cada vez maior de moradores. Novos bairros surgiram e a cidade retomou seu crescimento. Um crescimento não planejado, motivado, principalmente, por interesses comerciais daqueles que queriam se aproveitar da nova onda de progresso.

Década após década, a cidade foi crescendo sem que tivesse sido respeitado um planejamento urbanístico eficiente. A falta de acompanhamento dessa infraestrutura fez surgir gargalos no trânsito, na educação, na saúde. Falhas que acabaram prejudicando a qualidade de vida da própria população.

Sorocaba vive, neste momento, o drama do crescimento desordenado em três importantes regiões da cidade. Basta circular um pouco pelo Parque Campolim, pelo Alto da Boa Vista e pela zona norte para compreender que a evolução imobiliária é maior que a capacidade de o poder público local investir em obras suficientes para solucionar a demanda que se apresenta.

A chegada de novos empreendimentos faz explodir o número de veículos nas vias e isso acaba gerando um reflexo negativo no trânsito, notadamente nos horários de pico. O tempo gasto no percurso pelas principais vias de acesso a essas regiões compromete parte do dia dos motoristas que precisam circular pela região. Um percurso de alguns quilômetros pode demorar mais de meia hora. Aos poucos, esse problema vai se espraiando para toda a cidade e dificultando a locomoção do sorocabano como um todo. Se num dia normal o caos já se instala no trânsito, em dias de chuva forte e de acidente na pista, o drama é maior ainda.

Diante desse quadro, o poder público acaba tendo pela frente uma equação difícil de resolver: como equilibrar o planejamento urbano com a expansão imobiliária e empresarial? Impedir a construção de novos projetos ou mesmo dificultar a instalação dos mesmos pode afetar a arrecadação municipal e a geração de empregos. Liberar totalmente as iniciativas privadas pode colapsar uma determinada região da cidade.

A construção de um novo shopping, por exemplo, gera milhares de novas vagas de trabalho e milhões em recursos para a prefeitura, mas causa enorme impacto no trânsito e na vida de quem mora na região da obra. Se o planejamento público não acompanhar essa evolução, o progresso acaba virando um tormento.

Em reportagem publicada na edição de 1º de abril do jornal Cruzeiro do Sul, a Prefeitura de Sorocaba questionada sobre o crescimento do ramo imobiliário, informou ter buscado, constantemente, atualizar a legislação vigente e as ferramentas de gestão, de modo a modernizar e adequar à nova realidade do município. Além disso, estão sendo utilizadas medidas mitigadoras, solicitadas para autorização de novos empreendimentos, na tentativa de neutralizar os impactos negativos que possam ser causados no local de construção.

A Prefeitura também informou que estão previstas mais de 30 obras de mobilidade urbana em todas as regiões da cidade, com o objetivo de garantir a fluidez do trânsito em áreas cujo crescimento atual está acima da média prevista no Plano Diretor. Um investimento superior a R$ 600 milhões.

É importante, neste momento, que essas obras realmente saiam do papel e permitam que o trânsito da cidade volte a fluir de forma adequada, garantindo qualidade de vida aos seus moradores. De pouco adianta um progresso desordenado que cause mais dissabores do que benefícios à população. Que essa nova onda de crescimento sirva, mais uma vez, de aprendizado, para que estejamos preparados para o futuro, sem ter que correr atrás de problemas criados por nós mesmos, por falta de organização e de previsão.