O valor do seu voto nas eleições municipais

Teremos mais bocas para alimentar mensalmente, com o dinheiro de nossos impostos, e ainda pagaremos um abono extra

Por Cruzeiro do Sul

A partir de 2025, os vereadores eleitos receberão um subsídio de R$ 18 mil mensais

A Câmara de Vereadores de Sorocaba está envolvida em mais uma polêmica. Desta vez as críticas da população atingem o aumento, ou reajuste como preferem alguns edis, nos salários que serão pagos aos legisladores que serão eleitos na próxima eleição. O tema é bastante controverso num país onde milhões de pessoas precisam de ajuda do governo para ter um pouco de comida no prato e um mínimo de dignidade.

A partir de 2025, os vereadores eleitos receberão um subsídio de R$ 18 mil mensais, uma atualização salarial de 52% tendo como base a remuneração atual que é de R$ 11.838,00. Como se não bastasse esse polpudo acréscimo, os vereadores decidiram acrescentar à remuneração da função um abono anual, equivalente a um 13º salário, no mesmo valor do que é pago mensalmente. Todos esses benefícios serão pagos pelo bolso do contribuinte, já que a Câmara Municipal tem, como única fonte de renda, o dinheiro público, arrecadado de taxas e impostos.

Os vereadores sabem que esse tema é bastante impopular. Os que votaram a favor do reajuste buscam agora limpar a barra diante dos olhos da população, meses antes de bater à porta dos eleitores pedindo votos para a reeleição. Uma tarefa nada fácil, principalmente para aqueles que têm suas bases eleitorais ligadas às classes menos favorecidas da cidade.

O que chama a atenção, no entanto, é a forma como ocorreu a aprovação do aumento. Numa manobra bastante açodada, sem dar direito a que nenhum membro da Casa se pronunciasse, o presidente da Câmara, Cláudio Sorocaba, incorporou um narrador de corrida de cavalos e atropelou a todos que tentassem impedir sua sanha em aprovar o projeto criado pela própria Mesa Diretora. Em dez segundos, o tema foi proposto e considerado aprovado pelo presidente da Câmara. Alguns vereadores, que em tese votariam contra o reajuste, reclamaram que nem tiveram tempo de chegar ao plenário para se posicionar sobre o assunto e que foram pegos de surpresa pela manobra do presidente. O que se sabe, com certeza, é que nove vereadores disseram sim ao projeto, contra oito que se posicionaram contra. Dois nem chegaram a votar e o presidente da Casa, de forma confortável, não precisou deixar suas próprias digitais na votação.

Em entrevista publicada na edição de quarta-feira (5), do jornal Cruzeiro do Sul, o presidente da Câmara justificou a necessidade do aumento. Cláudio destacou que o reajuste do subsídio dos parlamentares estava congelado desde 2017 e que se o projeto não passasse agora, na atual legislatura, essa alteração só poderia ser feita em 2028.

O presidente da Câmara também tentou explicar a “votação relâmpago” utilizada para a aprovação do projeto. Segundo Cláudio, discussões rápidas são “normais” e acontecem em todas as esferas de poder, tanto nas municipais, como na estadual e na federal. Ele só esqueceu que esse tipo de procedimento dificilmente é usado em temas controversos como o do reajuste dos próprios parlamentares. Para o presidente da Casa, os vereadores foram até modestos e econômicos no reajuste, e o aumento poderia ser, com base na Constituição Federal, até maior, para R$ 22.500,00, ou 75% do que ganham os deputados estaduais.

Qualquer que seja o argumento de vereadores e do próprio presidente da Câmara, o reajuste aprovado foi muito malvisto pela população sorocabana. Os parlamentares sabem disso. Em novembro, quando aprovaram o projeto em primeira discussão, a pressão já foi grande e o assunto retirado de pauta por cinco meses. Agora passou e de uma forma pouco transparente e com nenhuma discussão sobre o tema.

A conta vai ficar para o bolso da população que na próxima eleição vai escolher 25 e não 20 vereadores como na atual legislatura. Esse aumento de cadeiras já havia sido aprovado por esses mesmos vereadores. Então teremos mais bocas para alimentar mensalmente, com o dinheiro de nossos impostos, e ainda pagaremos um abono extra. Dinheiro que, com certeza, poderia ser empregado em obras que a cidade tanto aguarda e necessita.

Como vamos gastar mais para sustentar a Câmara de Vereadores, nosso voto também está valendo mais e na hora de escolher nossos representantes, na eleição do ano que vem, todo esse retrospecto deve ser levado em conta. Cabe a você, eleitor sorocabano, decidir quem vai merecer o reajuste aprovado de forma relâmpago pelos nobres edis e quem deve voltar para casa.