Crescimento estratégico rumo ao topo

O mercado, ao ver a qualidade e o frescor do produto nacional, fez fila, no início do século XXI, para garantir as compras

Por Cruzeiro do Sul

Este ano, vamos produzir cerca de 13% do alimento cultivado no mundo

Os Estados Unidos, durante décadas, foram o maior produtor e exportador de milho do mundo. Com seus silos cheios, os agricultores de lá controlavam a cotação do grão e decidiam quem receberia alimento de melhor qualidade e quem ficaria com os restos da safra. Normalmente, era vendido para o exterior o milho estocado há mais tempo, já próximo do vencimento.

Conhecendo essa maneira de operar dos norte-americanos, os produtores rurais brasileiros começaram a preparar-se para enfrentar esse gigante comercial. Aos poucos, foram estruturando a cadeia de produção nacional, e o milho, que era única e exclusivamente para consumo interno, começou a registrar excedentes que poderiam ser facilmente exportados.

O mercado, ao ver a qualidade e o frescor do produto nacional, fez fila, no início do século XXI, para garantir as compras. Com o dinheiro vindo das exportações, em dólar, o agricultor brasileiro foi melhorando sua capacitação e investindo em novas áreas de plantio. Aos poucos a tecnologia avançou e a safrinha, plantada logo depois da colheita da soja, fez o Brasil disparar na produção de grãos.

De acordo com os últimos levantamentos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), na safra atual, o Brasil tem espaço para exportar 52 milhões de toneladas de milho, cerca de 20 milhões de toneladas a mais do que foi exportado em 2022.

Se esses dados se confirmarem, o Brasil vai superar assim os Estados Unidos, cujas projeções de exportação estão estimadas em 49 milhões de toneladas. Motivo suficiente para comemoração entre os produtores rurais.

O vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Enori Barbieri, diz que o Brasil está se impondo como concorrente dos Estados Unidos e tem capacidade de fazer sua produção crescer ainda mais. Segundo ele ainda há, no país, muita superfície disponível para o cultivo, em espaços agrícolas já existentes, e a nossa produtividade pode ser ainda maior.

Um dos fatores que garantem essa previsão é a posição estratégica do Brasil no planeta. Somos um dos poucos países no mundo com capacidade tecnológica e clima para produzir até três safras num único ano. Uma condição que garante enorme vantagem na comparação com os países do Hemisfério Norte, que enfrentam o frio rigoroso do inverno e só conseguem produzir uma safra.

A nossa "safrinha", que começou como um cultivo secundário e experimental nos anos 1980, com o passar do tempo, superou a colheita de verão e, graças a ela, é que se espera que o Brasil alcance, este ano, um novo recorde de produção.

Todo esse sucesso não veio de mão beijada. Foi necessário muito planejamento, união e luta política das bancadas ruralistas para que o país se tornasse exemplo mundial na produção agrícola. Um posto que devemos defender com orgulho.

Só que novas batalhas estão por vir. O Parlamento Europeu aprovou, nessa semana, uma legislação que pretende proibir que os países do bloco adquiram produtos de áreas desmatadas após o ano de 2020. E vão exigir muita documentação provando a origem da produção antes de fechar o negócio. Só não está bem claro como será definido o conceito do que é “área desmatada”, se vale só para avanços ilegais em biomas naturais ou vai atingir também o direito de abertura legal de novas áreas que um determinado produtor tem em sua propriedade particular.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal marcou para o início de junho o julgamento da ação que vai definir o Marco Legal para demarcação de terras indígenas, outro imbróglio jurídico que pode causar instabilidade no campo.

O Brasil tem tudo para tornar-se, de longe, o maior exportador mundial de grãos. Este ano, vamos produzir cerca de 13% do alimento cultivado no mundo. Só que há a necessidade de que o país se una, cada vez mais, para proteger o setor e evitar que armadilhas ideológicas empurrem o setor para o atraso.