Dia do Ferroviário

Cerca de 1,5 mil pessoas trabalharam, ao mesmo tempo, na construção da ferrovia, das pontes e das estações

Por Cruzeiro do Sul

Sem esquecer do passeio com a Locomotiva 58, que atraiu centenas de interessados em suas últimas edições

Na data que marca o aniversário de inauguração da Estrada de Ferro Petrópolis, também conhecida como Estrada de Ferro Mauá, primeira estrada de ferro brasileira, aberta em 30 de abril de 1854, é comemorado o Dia do Ferroviário.

Simbolicamente, o primeiro ferroviário de nossa terra foi o empresário austro-húngaro Luiz Matheus Maylasky, que em 10 de julho de 1875, quando às 14h30 chegou à estação de Sorocaba o primeiro trem vindo de São Paulo, inaugurou a Estrada de Ferro Sorocabana (EFS).

Diferentemente das outras ferrovias, desenvolvidas pelo café, a Sorocabana surgiu da necessidade de exportar a grande quantidade de algodão herbáceo produzido na região de Sorocaba e os primeiros passos para a sua construção foram dados em 1870, com o apoio do imperador Dom Pedro II empenhado pelo compromisso de Maylasky em conectar, por ferrovia, a Capital com a Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema (hoje, Floresta Nacional de Ipanema -- Flona -- em Iperó).

Cerca de 1,5 mil pessoas trabalharam, ao mesmo tempo, na construção da ferrovia, das pontes e das estações.

A Sorocabana cruzou o interior do Estado de São Paulo até chegar ao Paraná e ao Mato Grosso do Sul.

Em 1930, foram inauguradas as oficinas de Locomotivas, Carros e Vagões de Sorocaba, que chegaram a ser o maior complexo de manutenção ferroviária da América Latina e hoje infelizmente estão desativadas.

O ensino técnico estadual em São Paulo, por exemplo, tem em seu DNA o antigo Curso Ferroviário da Sorocabana.

A escola Matheus Maylasky, o Estrada de Ferro Sorocabana Futebol Clube e a Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro são outros exemplos da contribuição dos ferroviários para Sorocaba.

O Gabinete de Leitura Sorocabano, instituição cultural mais antiga em atividade na cidade, foi fundado por Luiz Matheus Maylasky.

A extinção da Sorocabana, em 10 de novembro de 1971, quando o governo de São Paulo unificou as ferrovias do Estado e criou a Fepasa - Ferrovia Paulista S/A, marca também o agravamento da decadência desse meio de transporte.

Em sua existência, apesar de promover investimentos em diversas áreas, a Fepasa não conseguiu reverter uma situação eminentemente crítica do transporte ferroviário no Estado.

Sua federalização, em 1998, e a posterior concessão do serviço à iniciativa privada, em 1999, também não.
Sem fiscalização, os operadores privados privilegiaram outros trechos da malha, deixando à míngua grande parte da ex-Sorocabana.

Hoje, dia 30 de abril de 2023, Sorocaba vive um Dia do Ferroviário sem trem.

Desde janeiro de 2022, com o fim do transporte comercial de celulose entre Três Lagoas (MS) e Santos (SP), só passam pela cidade poucos veículos de manutenção ou locomotivas rebocadas da Rumo Malha Oeste, que ainda usa a linha como acesso entre as malhas Sul e Paulista.

Ao mesmo tempo, há a esperança da reativação desse meio de transporte, com a relicitação da Malha Oeste pelo governo federal, que busca encontrar um novo operador privado de cargas para suceder a Rumo e realizar os investimentos necessários (cerca de R$ 14 bilhões) para tornar a ligação entre Mairinque (SP) e Corumbá (MS) novamente viável; o projeto do Trem Intercidades, do governo estadual, para transportar passageiros entre Sorocaba e a Capital; e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) entre Brigadeiro Tobias e George Oetterer, que teve os estudos iniciados no governo José Crespo (DEM).

Sem esquecer do passeio com a Locomotiva 58, que atraiu centenas de interessados em suas últimas edições e merece maior carinho e apoio dos governantes para tornar-se permanente.

Depende do sucesso dessas propostas que o apito do trem não fique somente na memória dos sorocabanos.