Todo mundo no mesmo barco
Dados apurados pela pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas mostram que a inflação deve acelerar em maio
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano pela sexta vez seguida.
A decisão, já aguardada pelo mercado, voltou a provocar a ira do presidente Lula. Misturando política com economia, o atual mandatário da Nação ainda não se conformou com a independência do Banco Central, outorgada pelo Congresso Nacional.
Lula voltou a criticar o patamar da taxa básica de juros da economia, nesta quinta-feira (4), durante a cerimônia de recriação do Conselhão.
O que o presidente esquece, antes de meter-se numa seara que não domina, é que as principais economias do mundo estão aumentando suas taxas de juros para tentar conter a inflação.
As decisões técnicas adotadas pelo Banco Central brasileiro têm sido bastante elogiadas lá fora e muita gente tem seguido a cartilha proposta pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo atual presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Entre as justificativas para a manutenção da taxa de juros, o Copom citou em seu último comunicado como fatores de risco a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a “incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal” em negociação no Congresso, sobretudo “seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação”.
Os dados apurados pela pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) mostram que a inflação deve acelerar agora em maio, na comparação com o número registrado em abril. O mês deve fechar com alta de 0,50%, acima dos 0,43% de abril.
Essa alta da inflação deve ser puxada por pressões dos grupos Alimentação e Transportes, que na passagem dos meses devem acelerar, respectivamente, de 0,86% para 0,97% e de 0,35% para 0,80%, segundo estimativas dos coordenadores da Fipe.
O Brasil não está sozinho no mundo. O Federal Reserve - Fed, o banco central dos Estados Unidos, anunciou também na quarta-feira, o aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros do país, que agora está na faixa entre 5% e 5,25% ao ano. Essa é a décima alta de juros no país desde março de 2022.
De acordo com o comunicado da instituição, as avaliações de seu Comitê de Política Monetária levaram em conta as condições do mercado de trabalho, as pressões inflacionárias e as expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais.
O Fed avaliou que a atividade econômica está se expandindo num ritmo bastante modesto este ano e isso deve complicar o desempenho de todas as economias do planeta.
O Banco Central Europeu (BCE) seguiu o mesmo raciocínio e determinou uma elevação em suas principais taxas de juros em 25 pontos-base. A decisão, tomada nesta quinta-feira (4), considerou que a inflação na zona do euro segue persistente e bem acima da meta oficial de 2%. Com a decisão, a taxa de refinanciamento do BCE passará de 3,50% a 3,75%; a de depósitos, de 3% a 3,25%; e a de empréstimos, de 3,75% a 4%.
E esse aumento nos juros deveria ter sido maior. Muitos analistas defendiam uma alta de 50 pontos-base, que seria igual ao adotado na reunião anterior do BCE, em março. A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, destacou que, apesar da meta “única” do BC europeu ser a de inflação a 2% ao ano, a autoridade monetária continuará a monitorar o aperto no crédito, que pode ocorrer devido às “renovadas tensões nos mercados financeiros”.
Apesar de afirmar que a zona do euro está “longe” de uma crise de crédito, a presidente afirmou que os empréstimos podem “enfraquecer ainda mais” e que os juros altos estão restringindo a busca de crédito por empresas, diminuindo a demanda.
Lagarde reconheceu que a guerra na Ucrânia segue sendo um fator de risco para a inflação da zona do euro, podendo novamente pressionar os preços de energia e alimentos.
Como se pode notar, o mundo desenvolvido sabe que a hora é de puxar o freio, manter os juros em alta e evitar a disparada da inflação. A situação brasileira é boa, nesse cenário, uma vez que o nosso Banco Central tomou as medidas certas, na época certa, graças à independência que agora tem.
A economia brasileira só não está em frangalhos como a de nossos vizinhos da América do Sul por conta dessa correção de rota feita no ano passado. Ninguém defende os juros altos, mas esse ainda é o melhor remédio que temos em mãos para conter a disparada dos preços e garantir uma boa perspectiva futura para a sociedade.