Cada coisa em seu lugar

A bola da vez são denúncias de que jogadores teriam recebido dinheiro para cometer infrações que resultassem em cartões amarelos e vermelhos

Por Cruzeiro do Sul

Craques do futebol

O futebol, há décadas, é o esporte mais popular no Brasil e o que mais desperta paixões. A devoção dos torcedores é tanta que verdadeiras batalhas campais já foram registradas em diversos momentos. A situação ficou tão grave que a Justiça, em São Paulo, decidiu proibir que torcidas de dois times rivais assistam ao jogo ao mesmo tempo.

Só os seguidores do mandante da partida é que têm direito de estar presente no estádio. Nem essa medida conseguiu impedir que confrontos entre organizadas fossem marcados pelas redes sociais e brigas enormes vitimassem aliados de um lado ou outro.

Além da violência, outro fator começa a macular o espírito esportivo que deve prevalecer no futebol e em todas as outras modalidades. Quadrilhas de criminosos estão aliciando jogadores para levar vantagem em apostas. O esquema é tão diversificado que fica impossível controlar tantas variáveis.

A bola da vez são denúncias de que jogadores teriam recebido dinheiro para cometer infrações que resultassem em cartões amarelos e vermelhos. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público de Goiás que descobriu um esquema de manipulação de apostas esportivas em partidas do Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022 e partidas do Paulistão e do Gauchão de 2023. Os jogadores cooptados por grupos criminosos recebiam até R$ 100 mil para provocar cartões ou realizar outras ações dentro de campo. Ao todo, quinze jogadores estão na mira das autoridades. Um deles é o zagueiro Eduardo Bauermann, afastado esta semana da equipe do Santos. O Fluminense também anunciou o afastamento do zagueiro Vitor Mendes.

O alerta para esse tipo de falcatrua surgiu, em setembro do ano passado, no Campeonato Inglês, o mais rico e mais tradicional do planeta. O meio-campista Granit Xhaka, do Arsenal, começou a ser investigado pela Agência Nacional Anticrime da Inglaterra por um lance ocorrido na edição 2021/22 da Premier League. A agência acredita que há indícios de manipulação esportiva em um lance envolvendo o jogador numa partida contra o Leeds United, em 18 de dezembro de 2021. O atleta suíço, já bem perto do fim do jogo, teria demorado tanto tempo para cobrar uma falta que acabou sendo advertido pelo juiz com um cartão amarelo. Minutos antes, uma casa de apostas teria recebido uma grande soma em dinheiro antecipando essa punição. A coincidência despertou suspeita e a partir daí vários casos foram descobertos. Xhaka nunca foi punido e continua disputando as partidas pelo Arsenal.

Aqui no Brasil, desde abril, o MP deflagrou duas operações de investigação e combate a crimes de manipulação em partidas de futebol. Três mandados de prisão, 16 de preventiva e 20 de busca e apreensão, foram cumpridos em 16 municípios de 20 Estados brasileiros, incluindo São Paulo e Rio.

O que mais preocupa é que esse tipo de apuração ainda está no início e já se descobriu um grande número de irregularidades. Atletas que se envolveram no esquema chegaram a ser ameaçados, até de morte, pelos aliciadores por não cumprir o combinado. Uma situação que coloca em risco a idoneidade de todos que vivem do futebol no País e mancha a imagem do futebol no Brasil.

A profusão de casas de apostas, que surgem em cada esquina, dificulta ainda mais o controle das autoridades. Isso sem contar num grande número de esquemas cuja origem está em países onde a lei e a transparência não são grandes virtudes.

O importante, nesse momento, é evitar uma caça às bruxas e levantar suspeitas contra quem não tem nada a ver com o esquema. As investigações têm de continuar, os culpados precisam ser punidos no limite das leis vigentes e as autoridades tem o dever de aprimorar a fiscalização das casas de apostas. Outra medida importante é impedir que esse tipo de negócio patrocine campeonatos, árbitros e equipes. O dinheiro que vem do lucro das apostas não deve se misturar com a lisura e o fair play do esporte. E isso não vale só para o futebol e sim para todas as modalidades.