As peças estão em movimento
Se na época da Guerra Fria só Estados Unidos e União Soviética mexiam as peças, agora há muito mais gente querendo meter a mão no tabuleiro
A Cidade do Cabo, na África do Sul, foi palco de um encontro importante entre os ministros das Relações Exteriores dos países que fazem parte do Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e o próprio anfitrião.
Essa reunião, preparatória para o encontro de líderes marcado para agosto, no mesmo país, serviu para afinar os discursos e as pretensões do grupo.
Dois assuntos chamaram bastante a atenção. Primeiro a intenção de reforçar a influência dessas nações no estabelecimento de uma nova ordem mundial. Segundo a preocupação em convidar outros países a fazer parte do bloco.
Os chanceleres afirmaram que os Brics estão abertos a incorporar novos membros em sua busca por alcançar um "reequilíbrio" das forças globais. Eles pretendem contrapor-se, principalmente, à liderança dos Estados Unidos e da União Europeia.
Em termos populacionais, o grupo tem grande importância, já que conta com duas das nações com maior número de habitantes do mundo: China e Índia.
Em termos bélicos, a força também é enorme, Rússia, Índia e China detêm enorme potencial de armas nucleares, tanto para atacar como para defender-se. Os cinco países do Brics estão espalhados em posições estratégicas do Globo, permitindo também montar uma rede consistente não só para o comércio internacional, mas também para proteção mútua.
Brasil e África do Sul aparecem, num primeiro momento, em desvantagem política e econômica na comparação com seus parceiros. Só que os dois países têm capacidade de liderar em seus continentes e atrair novos seguidores para compor o bloco.
Uma das tentativas de exercer essa influência regional aconteceu esta semana, em Brasília. O presidente Lula tentou reviver a antiga Unasul criada, em 2008, por ele, pelo ex-ditador da Venezuela, Hugo Chavez, e pelo ex-presidente argentino Nestor Kirchner.
Só que o tiro saiu pela culatra e as intenções do presidente brasileiro não se concretizaram da maneira como ele esperava.
A Rússia, por outro lado, vive um momento de extrema pressão internacional por conta da invasão do território ucraniano. O país recebeu várias sanções internacionais e enfrenta dificuldades para encerrar uma batalha que parecia ser fácil. A China aguarda o desfecho dessa história para decidir o que fazer com relação a Taiwan.
De olho nesse movimento dos Brics, a União Europeia resolveu reagir. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, defendeu na sexta-feira (2) uma "aliança sincera" com os países da Ásia Central para reforçar a influência do bloco na região. A ideia é ajudar financeiramente essas ex-repúblicas soviéticas e aproximá-las dos irmãos europeus.
Os presidentes do Cazaquistão, do Quirguistão, do Uzbequistão, do Tadjiquistão e uma delegação do Turcomenistão participaram de uma reunião de cúpula na cidade quirguiz de Cholpon-Ata, para ouvir as propostas levadas por Michel.
As principais oportunidades de colaboração oferecidas são de infraestrutura nas áreas de tecnologia climática, questões energéticas, segurança, transporte e turismo.
Os europeus decidiram acelerar as negociações com esses países depois que a China os convidou para uma conversa semelhante. Os dois lados tentam atrair esse importante grupo de aliados no Hemisfério Norte.
Toda essa movimentação é assistida pelos Estados Unidos. Eles sabem que o objetivo dessa estratégia montada pelos vários blocos tem como finalidade reduzir a força e a importância do país no cenário mundial.
O problema é que, nesse momento, a liderança de Joe Biden, interna e externamente, é bastante contestada. Para piorar, ele entra na reta final de mandato sem ter muita coisa a mostrar para seus eleitores. Além disso, o presidente dos Estados Unidos apresenta vários problemas físicos.
Em várias cerimônias parece estar desorientado, sem saber para que lado ir. As quedas, amplamente divulgadas pela imprensa, também mostram um certo desequilíbrio de Biden. Resta saber se todos esses fatores somados dificultarão, ainda mais, sua permanência no cargo.
O mundo transformou-se num grande jogo de xadrez. Se na época da Guerra Fria só Estados Unidos e União Soviética mexiam as peças, agora há muito mais gente querendo meter a mão no tabuleiro. O tempo vai dizer quem fez a melhor jogada e quem se viu derrotado diante do xeque-mate.