A fome insaciável dos partidos políticos
Sem uma base sólida no Congresso Nacional, o atual presidente precisa convencer grupos de parlamentares eleitos pela oposição a mudar de lado. Isso custa caro. Custa caro também manter os antigos aliados fiéis
Saco sem fundo é uma expressão antiga, muito usada por mães e avós que queriam chamar a atenção de uma criança que estava se excedendo na alimentação. O termo retrata uma pessoa insaciável, que não conhece seus limites e que quer devorar tudo que vê pela frente. Esse ditado serve também para ilustrar a atual situação política do País.
Sem uma base sólida no Congresso Nacional, o atual presidente precisa convencer grupos de parlamentares eleitos pela oposição a mudar de lado. Isso custa caro. Custa caro também manter os antigos aliados fiéis. Não adianta nada para o comandante do Executivo ganhar novos seguidores se, ao mesmo tempo, perder os antigos.
Refém de toda essa articulação política, o presidente Lula não tem medido esforços para agradar os mais diferentes grupos. Só que a fome por cargos e verbas desses políticos aumenta, cada vez mais, diante da falta de capacidade do governo em articular sua própria base.
Fragilizado, nas cordas, o presidente se vê obrigado a perder alguns anéis para salvar os dedos. Lula tem feito tudo para atrasar, ao máximo, essa intromissão no seu mandato, mas já percebeu que sem esses apoios não vai conseguir entregar aquilo que prometeu em campanha.
As negociações para a entrada do PP e do Republicanos no governo enfrentam uma boa dose de tensão. Os partidos pedem o máximo e o governo tenta oferecer o mínimo. Só que com o passar do tempo e a volta das votações no Congresso, vai ser impossível adiar a tomada de decisão.
O Centrão, no primeiro semestre, bagunçou a estrutura ministerial e deixou clara a insatisfação com o grupo encarregado de organizar a articulação política. O atraso na liberação de emendas e na definição de cargos ameaçou a votação de vários projetos tipos como fundamentais para o governo. Para evitar que a situação se repita, está prevista uma minirreforma ministerial. Nos bastidores, já são consideradas como certas as nomeações dos deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). Só falta definir quais pastas eles herdarão. Um outro problema é saber quantos votos, de fato, essa composição vai garantir para o governo.
Já o União Brasil, depois de ser contemplado com a troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Ministério do Turismo, exige agora a Embratur, atualmente presidida pelo petista Marcelo Freixo, e também os Correios, outro órgão comandado pelo partido de Lula. O PP, por sua vez, também pleiteou a Funasa e quer indicar a ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI) para substituir Rita Serrano na presidência da Caixa Econômica Federal.
Só que a entrada de outros partidos na situação está fazendo com que aliados de primeira hora sintam que exigiram pouco para levar o governo nas costas. O PSD, por exemplo, já avisou que quer entrar na divisão de cargos de segundo escalão. Apesar de ter sido contemplado com três pastas na Esplanada, os membros do partido, agora, se queixam da falta de indicações em cargos importantes nos Estados.
Do outro lato, o próprio PT reage à perda de espaço no governo. O partido do presidente não abre mão de manter sob seu comando as posições estratégicas que ganhou junto com a eleição.
Além do PSD, outros partidos que têm ministérios no governo, como PDT e PSB, reclamam que ficaram como poucas posições de comando dentro das próprias pastas que administram. Essa insatisfação toda pode gerar rebeliões inesperadas para o governo que conta, todos os dias, o número de votos que precisa para aprovar projetos no Congresso.
Como se pode notar, a maioria dos nossos dirigentes políticos está pouco preocupada com as necessidades da população e muito interessada nas benesses que Lula pode oferecer.
O Brasil já assistiu esse filme. Se chamou mensalão e levou muita gente para o banco dos réus.
Infelizmente, as lições do passado não foram aprendidas e tudo está se repetindo da mesma maneira. Um governo fraco abre o apetite do Congresso e aí o orçamento do País vira um saco sem fundo para pagar as contas desses acordos, muitas vezes, fechados na calada da noite.