Outros tempos

Quanto mais Lula protela a definição das mudanças maior é o preço e a pressão do Congresso

Por Cruzeiro do Sul

Lula tem pensado em substituir os cargos em ministérios pela liberação de dinheiro público extra

Entra dia, sai dia e a prometida reforma ministerial para atrair os partidos do Centrão não se materializa.

O presidente Lula busca uma solução mágica, que não o obrigue a desabrigar nenhum dos antigos aliados e, ao mesmo tempo, agrade os que pretendem se acomodar na Esplanada dos Ministérios.

As soluções mais absurdas já foram aventadas nas últimas semanas, desde a criação de novas pastas como a das Micro e Pequenas Empresas, como a divisão e a fusão de ministérios.

Só que nenhum desses acenos agradou os futuros aliados. O tempo passa e a impaciência toma conta dos parlamentares. Para pressionar, novas cascas de banana são jogadas no cominho do presidente.

A última, desta semana, amplia as desonerações fiscais dos municípios do país. Com a corda no pescoço pela falta de recursos, os prefeitos ganhariam um alívio nas contas públicas. O problema dessa ideia está no custo da benesse para a arrecadação federal, estimada por alguns analistas em R$ 9 bilhões. Quanto mais Lula protela a definição das mudanças, maior é o preço e a pressão do Congresso.

Outro fator que joga contra o presidente são as contínuas interferências do Supremo Tribunal Federal nas decisões que cabem ao Parlamento. Ao invadir a seara de deputados e senadores, os ministros do STF aumentam a insatisfação dos parlamentares com a situação atual do país.

A votação do Marco Temporal para demarcação de terras indígenas, por exemplo, vai causar sérias reações da bancada ruralista, a maior e uma das mais unidas da Câmara. As discussões sobre a flexibilização do aborto e da posse de maconha atingem diretamente a poderosa bancada evangélica. Tudo isso somado e a conta para o governo, que busca maioria no Parlamento, só fica cada vez mais salgada.

Lula tem pensado em substituir os cargos em ministérios pela liberação de dinheiro público extra para os deputados. Um modelo muito parecido com o que se viu na época do Mensalão do PT, que rendeu condenações e prisões para vários membros do partido. Foram meses de instabilidade política que afetaram bastante a economia brasileira. Repetir um cenário como esse, 20 anos depois, seria um tiro no pé de Lula e de suas pretensões políticas futuras.

Vale lembrar também que na época do Mensalão, as redes sociais praticamente não existiam. Hoje elas são responsáveis pela incansável divulgação de vídeos e mensagens e uma reputação pode ser destruída em segundos. Enfrentar as redes sociais é uma tarefa hercúlea que ninguém pretende encarar.

Ao mesmo tempo que luta para preservar amigos e aliados, Lula enfrenta problemas dentro do próprio ministério atual. Um deles se chama Juscelino Filho, que desde o início do mandato tem se metido em grandes confusões.

A última deles ocorreu nesta sexta-feira, 1º de setembro. A Polícia Federal iniciou a Operação Benesse contra um grupo que teria se unido para fraudar licitações, fazer lavagem de dinheiro e desvio de verbas federais da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Um dos alvos da investigação é Luanna Rezende, prefeita de Vitorino Freire (MA) e irmã do ministro das Comunicações, o próprio Juscelino Filho. Ela foi afastada do cargo pela Justiça e é alvo de busca e apreensão. A casa do próprio ministro, por muito pouco, também não se transformou em alvo da PF. O pedido chegou a ser feito para o STF, mas foi negado pelo ministro Luis Roberto Barroso.

O mesmo Juscelino, em janeiro, foi acusado de direcionar R$ 5 milhões do orçamento secreto para a prefeitura de Vitorino Freire asfaltar uma estrada de terra que passa em frente à sua fazenda, no município maranhense. Foi ele também que usou um avião da FAB para participar de um leilão de cavalos no interior de São Paulo. Mesmo com todas essas denúncias nas costas foi mantido, até agora, no cargo.

O futuro dele ainda não se sabe. A certeza é que se o governo Lula não ceder logo às exigências ao Centrão vai sofrer, e muito, no plenário da Câmara. No final, o prejuízo dessa disputa acaba no nosso bolso.