O prejuízo causado pelos invasores

Apenas 17% dos países têm leis ou regulamentos adequados para enfrentar esse tipo de situação

Por Cruzeiro do Sul

Ibama suspende caça do javali no país

O mundo inteiro começa a discutir os efeitos das espécies invasoras nos ecossistemas de cada região. São animais e plantas comuns para um determinado ambiente, mas que se tornam prejudiciais para a natureza quando introduzidas num outro bioma. A maioria dessas espécies é exótica, mas essa não é uma regra que pode ser seguida na totalidade dos casos.

O Brasil convive, na atualidade, com 272 animais exóticos invasores em seus diversos ecossistemas. Os dados são do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental. O levantamento aponta também a presença de 210 espécies vegetais não nativas que se espalharam por ecossistemas brasileiros, causando danos à flora local.

Algumas dessas pragas chegam ao país sem que ninguém perceba. O mexilhão-dourado, por exemplo, veio grudado em cascos de navios. Espalhou-se por nossos rios e causa grande prejuízo. Outras espécies, como o javali, foram trazidas ao Brasil e saíram do controle das autoridades.

No caso do javali, a introdução ocorreu na década de 1960. Com o passar do tempo, vários criadores desistiram de investir no negócio e os animais foram liberados na natureza. Sem predadores que pudessem atacar a espécie, ela reproduziu-se a espalhou-se pelo Brasil.

Esses animais, soltos nos campos, acabaram virando uma ameaça para os produtores agrícolas. A situação foi ficando tão grave que, em 2013, o governo decidiu liberar a caça. Só em 2022, foram abatidos 465 mil javalis no Brasil. Nos últimos três anos, o número de caçadores licenciados saltou de 76,4 mil para 239,5 mil.

O problema é que agora o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) suspendeu as novas autorizações para caça ao javali. O órgão diz que são necessários vários ajustes, diante da nova legislação, para que as licenças voltem a ser liberadas.

Sem prazo para a retomada, a medida gerou preocupação entre agricultores e pecuaristas. Para a Sociedade Rural Brasileira, uma das principais entidades ligadas ao agronegócio, a suspensão pode colocar em risco o status sanitário do país e que é difícil calcular o tamanho do prejuízo que uma medida como essa acarretará. A Frente Parlamentar da Agropecuária tem cobrado do governo agilidade no processo de retomada do licenciamento.

Informações que constam na Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), apoiada pela ONU, estimam que as espécies invasoras, no mundo todo, já estariam custando mais de 400 bilhões de dólares -- quase 2 trilhões de reais -- ao ano em perdas e danos para os produtores rurais espalhados pelo planeta.

De acordo com o relatório, o desenvolvimento econômico, o crescimento populacional e a mudança climática “aumentarão a frequência e a extensão das invasões biológicas e os impactos das espécies exóticas invasoras”. O estudo mostra ainda que apenas 17% dos países têm leis ou regulamentos adequados para enfrentar esse tipo de situação.

Devido aos grandes volumes de comércio, a Europa e a América do Norte são as regiões que têm enfrentado os maiores problemas com relação ao crescimento de espécies invasoras. Mesmo países maios novos, como Austrália e Nova Zelândia, padecem desse mesmo mal.

Na Nova Zelândia, os colonos ingleses foram responsáveis pela introdução dos coelhos no século 19. Os animais eram soltos para caça e alimentação. Quando começaram a se multiplicar, os colonos importaram arminhos, um pequeno carnívoro, para reduzir o número de coelhos. Mas, os arminhos acabaram atacando as aves nativas, como o kiwi, quase causando a destruição da espécie.

Na África, as aguapés invasoras chegaram a cobrir 90% do lago Vitória, paralisando o transporte e sufocando a vida aquática da região. As plantas foram introduzidas, em Ruanda, pelas autoridades coloniais belgas, como uma flor ornamental. Só que a disseminação natural de sementes fez com que chegassem até os rios e se espalhassem sem controle.

O combate às espécies invasores é uma tarefa importante nos dias de hoje. Se nenhuma medida for tomada, os prejuízos podem ser enormes. A reprodução de animais e plantas não espera a vontade do homem em propor leis que equacionem o problema. É preciso agilidade e bom senso.