Os reflexos do baixo crescimento econômico

Alta do custo de vida e a dificuldade em fechar as contas do mês com um único salário obrigam as pessoas a dividirem as despesas coabitando

Por Cruzeiro do Sul

Muitos idosos mantêm o orçamento de casa

O resultado do último Censo mostrou que a população brasileira está ficando mais velha. Do levantamento realizado em 2012 para o concluído este ano, a parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 11,3% para 14,7% da população. Em números absolutos, essa faixa etária passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% no período.

A maior parte dessas pessoas conta com aposentadoria, o que garante um ganho mensal fixo, independentemente das intempéries da economia. Essa estabilidade faz com que as pessoas de mais idade sejam consideradas importantes provedoras dentro do orçamento doméstico das famílias.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas com 60 anos ou mais estão mais concentradas nas regiões Sudeste (16,6%) e Sul (16,2%). Já no Norte, apenas 9,9% dos residentes são idosos. Na comparação com 2012, a participação da população idosa cresceu em todas as grandes regiões. Entre os Estados, aqueles com maior concentração de idosos são Rio de Janeiro (19,1%) e Rio Grande do Sul (18,6%). Já Roraima tem a menor participação desse grupo etário em sua população (7,7%).

A importância dos idosos na economia é cada vez maior. Muitas famílias acabam dividindo o mesmo teto, permanecendo nas casas dos pais e dos avós por mais tempo. A alta do custo de vida e a dificuldade em fechar as contas do mês com um único salário, obrigam que as pessoas dividam as despesas coabitando.

Na última década, o percentual de pessoas que moram com idosos acima de 65 anos tem sido crescente. Os dados estão no levantamento realizado pela FGV Social, cruzando informações da Pnad Contínua Anual. Os números mostram que, entre 2012 e 2022, a participação aumentou em todos os Estados da Federação.

Apesar de a classe C representar o maior percentual de pessoas morando com idosos (25,04%), foi a classe AB que teve maior aumento na participação. Subiu de 20,32%, em 2012, para 24,97%, no ano passado. O movimento é explicado por uma série de fatores, como o elevado desemprego dos jovens, o envelhecimento da população e também o aumento do custo de vida.

“Quando um país cresce, os filhos tendem a ser mais ‘ricos’ que os pais. Mas o Brasil não cresce de forma consistente há algum tempo”, explica o diretor da FGV Social, Marcelo Neri. De 2012 até 2022, a economia brasileira viveu períodos de baixo crescimento e até recuo do Produto Interno Bruto (PIB), como ocorreu em 2015 e 2016 e em 2020 por causa da pandemia da Covid-19.

Ao mesmo tempo, a dificuldade para adquirir uma casa própria aumentou. Os valores dos imóveis não acompanharam o crescimento da massa salarial e a distância entre o sonho e o orçamento ficou cada vez maior. Segundo dados da FipeZap+, o preço médio do metro quadrado no Brasil subiu 33% de 2012 para cá, principalmente nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

Sem perspectiva de melhora, a curto prazo, é mais vantajoso morar com os pais ou com idosos que têm a renda garantida da aposentadoria. Atualmente, de acordo com a estratificação social definida pelo IBGE, 15% dos idosos acima de 65 anos pertencem à classe AB e 12,5% à classe C. Ou seja, o crescimento da fatia da população que vive no mesmo domicílio com pessoas de mais de 65 anos pode estar relacionado, também, ao fato de os mais velhos terem mais renda e responderem pelo sustento do domicílio, garantindo uma maior qualidade de vida a todos.

Essa realidade esconde um risco enorme para as futuras gerações. O Brasil é, hoje, um país que investe um volume imenso de recursos para sustentar a população mais velha. Já o investimento nos jovens é cada vez menor. Gastamos mais com os idosos que o Japão, considerado o país mais longevo do mundo. Segundo dados da FGV Social, enquanto os nipônicos gastam 10% do PIB com previdência, no Brasil, esse número está em 13%. E deve aumentar nas próximas décadas já que ainda estamos no começo da curva de envelhecimento. Diante desse quadro, a tendência é que os gastos aumentem ainda mais nos próximos anos.

Para escapar dessa cilada, o País precisa apostar com força no crescimento da economia e no investimento em educação. Só a soma desses dois fatores pode garantir que, no futuro, possamos ser uma nação com as contas equilibradas e com uma sociedade mais justa, sem que uma geração dependa da outra para sobreviver.