Eleições do São Bento
Por que os são-bentistas, capazes de encher o CIC quando preciso, participam tão pouco da vida política do clube?
No último dia 7, o São Bento elegeu a nova composição da sua Diretoria Executiva e do Conselho Deliberativo para o triênio 2024/2026. Houve uma única chapa inscrita para a diretoria, chamada “São Bento Para Todos”, liderada pelo atual presidente, Almir Laurindo, composta por oito dos nove atuais diretores, e que recebeu 91 dos 97 votos. O conselho teve três chapas inscritas e fica composto de seguinte forma: a chapa 1 (“São-bentistas”) recebeu 51 votos e terá direito a 15 cadeiras; a chapa 2 (“São Bento Pode Mais”) teve 23 votos e fez seis cadeiras; e a chapa 3, “Avante São Bento”, com 23 votos, terá duas cadeiras. Na prática, as chapas 1 e 3 são de situação, totalizando uma bancada de 17 cadeiras. E, depois de muito tempo, haverá uma bancada de oposição constituída, com a chapa 2 e suas seis cadeiras.
O processo eleitoral beneditino “dobrou a aposta” no mesmo caminho que vem sendo trilhado nos últimos três anos. Fora de campo, houve avanços, com a diminuição da dívida do clube, de R$ 15 milhões para 10 milhões, e investimento de R$ 1 milhão para a compra de equipamentos e mobiliários do Complexo Humberto Reale. O avanço em estrutura, com melhoria de campo, sala de reabilitação e alojamentos mais estruturados, dá condições para os jogadores entregarem o seu melhor. Entretanto, enquanto isso, os resultados dentro das quatro linhas foram ruins, com “sobe e desce” no Paulistão e perda do calendário nacional.
O momento mais agudo deu-se no segundo semestre de 2023, com a campanha pífia na Copa Paulista: seis empates e quatro derrotas, com apenas quatro gols marcados, e o indigesto “prêmio” de ser o único time dos 18 da primeira fase sem vencer um jogo sequer. A situação desagradável levou a própria diretoria a divulgar uma nota à imprensa abrindo mão do direito de disputar uma reeleição, o que foi revisto depois. E o torcedor, machucado, já havia se decepcionado no primeiro semestre, com novo rebaixamento à Série A2 que nem o “amuleto” Paulo Roberto Santos conseguiu impedir.
Descontentes com esse cenário, parte dos sócios até tentou articular uma opção diferente, lançando o nome de Maria Helena Ramalho, torcedora-símbolo do clube, à presidência. A inédita candidatura de uma mulher à presidência do Azulão, contudo, não encontrou o apoio necessário dos atuais dirigentes, que optaram por se articular internamente para um novo triênio, o qual terá início em 1º de janeiro de 2024.
Com a “casa arrumada”, o compromisso é de investimento no futebol para a equipe poder voltar para a Série A1. Vem aí um novo técnico, prometido com o perfil da competição, e a diretoria de futebol adianta que o elenco será formado por nomes que já atuaram nos Estaduais, Brasileiro séries B, C e D, e que possuam identidade com o clube. Sem desprezar a base, aproveitando ao menos cinco jogadores que disputaram a Copa Paulista e são “crias” beneditinas.
O próximo triênio reserva, ainda, a possibilidade de adesão à Sociedade Anônima do Futebol (SAF), referendada pela alteração estatutária votada no dia 14 de setembro. Foram 65 votos favoráveis e dois contrários. Pela nova redação, o São Bento fica autorizado a se tornar uma entidade de prática desportiva de outras modalidades para além do futebol, além de poder se associar e formar outras pessoas jurídicas, respondendo como cotista, ou que tenha ações (desde que com participação mínima de 10%).
A mensagem que fica do processo eleitoral beneditino é que o São Bento patrimônio imaterial da cidade tem importância inquestionável para Sorocaba, mas esta, com seus atuais 723.574 habitantes (segundo o último IBGE), muito pouco participa da escolha dos seus destinos. O Azulão tem 224 sócios aptos a voto e, destes, somente 43% compareceram às urnas. 97 pessoas decidiram o futuro de um clube com 110 anos de história e que colocou três atletas na seleção brasileira: Paraná, Marinho Peres e Luís Pereira. É absolutamente legítimo, mas suscita a seguinte pergunta: independentemente do resultado, por que os são-bentistas, capazes de encher o CIC quando preciso, participam tão pouco da vida política do clube?
Eles podem e devem tomar parte das suas decisões internas, mas essa via de participação se dá unicamente pela figura do sócio. O São Bento incentiva a adesão de novos sócios, ao disponibilizar planos de sócio-torcedor que garantem direitos políticos após um ano de associação, mediante aprovação do Conselho Deliberativo, a valores acessíveis, a partir de R$ 39,90. A existência de um bom quadro associativo garante receita fixa (independentemente da arrecadação nas bilheterias em dia de jogos ou contratos de patrocínio) e ajuda os órgãos internos (Diretoria Executiva e Conselho Deliberativo) a construir o futuro do clube, apoiando as decisões ou corrigindo as rotas quando necessário. Ou seja: sócios, torcedores, dirigentes e jogadores, juntos, dividem a missão (e o dever) de fazer o São Bento forte para os próximos desafios.