Impasse ecológico

A própria FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, ajuda a espalhar esse tipo de informação

Por Cruzeiro do Sul

Se a temperatura da Terra subir mais que 1,5 grau centígrado, nas próximas décadas, vamos enfrentar uma série de catástrofes naturais

Estudos e mais estudos, divulgados pelos mais diferentes organismos, defendem que o planeta precisa, com alguma urgência, reduzir toda e qualquer atividade que contribua para o aquecimento global. De acordo com esses relatórios, se a temperatura da Terra subir mais que 1,5 grau centígrado, nas próximas décadas, vamos enfrentar uma série de catástrofes naturais. O degelo nos polos Norte e Sul vai aumentar, o nível dos oceanos vai subir e muitas ilhas e cidades podem ser inundadas e até desaparecer.

Reuniões e mais reuniões, entre as principais lideranças mundiais, são feitas anualmente, mas na hora da decisão, pouca coisa muda. Os custos para a redução da poluição são imensos e há poucas nações dispostas e pagar esse preço.

Na COP28, em Dubai, vários esforços foram feitos para enquadrar os combustíveis fósseis. Dezenas de relatórios e sugestões foram apresentados, mas o lobby dos ricos produtores de petróleo, mais uma vez, saiu vencedor. Claro que eles possuem bons argumentos.

Segundo eles, há muito falatório sobre o que deve ser feito, mas poucas soluções concretas de como substituir os combustíveis fósseis sem penalizar a população. Os veículos elétricos, por exemplo, necessitam de energia que quase sempre vem de usinas que só conseguem garantir o abastecimento com o uso de diesel e carvão. Para enfrentar o frio do inverno no Hemisfério Norte também é necessária a queima de muito combustível. Sem isso, milhões de pessoas perderiam a vida.

Com dificuldade para enfrentar o lobby do petróleo, alguns estudos tentam atingir setores mais fracos da economia como, por exemplo, a pecuária. Ativistas de várias partes do mundo tentam jogar a culpa do aquecimento global no colo dos produtores de animais.

A própria FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, ajuda a espalhar esse tipo de informação. Para a entidade, “a pecuária representa 12% das emissões de gases de efeito estufa causadas pelas atividades humanas e o seu impacto no clima vai piorar se a demanda da carne continuar aumentando no mundo”.

O estudo tomou o ano de 2015 como referência. Naquele período, foram produzidos 810 milhões de toneladas de leite, 78 milhões de toneladas de ovos e 330 milhões de toneladas de carne.

Desde a produção de rações para alimentar o gado até a chegada dos alimentos às lojas, foram geradas 6,2 gigatoneladas de CO2 equivalente, medida que calcula a pegada de carbono de todos os gases emitidos. Neste processo, a FAO mediu metano, óxido de nitrogênio e dióxido de carbono.

O gado bovino é a principal fonte de emissões (62%), seguido pelo suíno (14%), pelas galinhas (9%), búfalos (8%) e ovelhas e cabras (7%). No que diz respeito aos produtos, a carne é a principal fonte de emissões (67%), à frente do leite (30%) e dos ovos (3%).

O relatório aponta ainda que as emissões diretamente ligadas à pecuária estão concentradas nos arrotos dos animais e na fermentação do esterco que, juntas, representam 60% do total da poluição gerada pelo setor.

São consideradas emissões indiretas, pela FAO, a fabricação de fertilizantes e pesticidas para a produção de rações, o transporte e a transformação de produtos de origem animal. Eles incluem no cálculo também a conversão de florestas em pastagens ou campos de soja destinados à produção de forragens.

Estudos como esse pretendem jogar a culpa de todas as desgraças do mundo no colo daqueles que apreciam um bom bife, um copo de leite ou uma simples omelete. Os ativistas mais radicais defendem que esses produtos sejam banidos da alimentação humana. Vários protestos já foram feitos diante de cadeias de fast food exigindo o fechamento dos negócios.

A luta contra o aquecimento global deve ser diária, só não dá para aceitar que soluções absurdas, carregadas de posições ideológicas, contaminem o debate. Iniciativas desse tipo só servem para desacreditar uma discussão que é bastante séria e urgente. Cada ponto cedido abre caminho para outras concessões. Daqui a pouco surgirá uma corrente que defenderá, para combater a emissão de gases, a aniquilação de todos os pets e animais de estimação. Aí a briga muda de patamar.