Todo cuidado é pouco

O que se precisa discutir é a falta de cuidado que muita gente tem na hora de investir seu patrimônio

Por Cruzeiro do Sul

Sede da Polícia Federal em Brasília

Duas figuras famosas, muito presentes nos sites de fofoca e nas redes sociais, caíram nas malhas da Polícia Federal (PF) nos últimos dias.

Nos dois casos, os responsáveis pelas investigações classificaram a defesa dos empresários envolvidos em possíveis crimes como “cegueira deliberada”, ou seja, a pessoa faz vista grossa para aquilo que está errado e diz que só aprovou o que está dentro da regra.

Ao se vitimizar, esses empresários tentam escapar das garras da lei, apesar de terem se beneficiado de boa parte da renda que seus negócios ilegais teriam produzido.

O caso mais recente ocorreu na terça-feira (12). O influenciador fitness Renato Cariani, de 47 anos, foi alvo de uma investigação da Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público de São Paulo e a Receita Federal.

Segundo o apurado pelas autoridades, ele faria parte de um esquema que teria desviado 12 toneladas de produtos químicos para produção de cocaína e crack.

Cariani, que por enquanto adotou o silêncio como tática, é um profissional muito procurado por pessoas que buscam tratamentos para melhorar a forma física e uma vida mais saudável; um contraponto com as possíveis atividades ilegais cometidas por empresas em que ele teria algum tipo de participação acionária.

O influenciador acumula mais de 7,3 milhões de seguidores em seu perfil no Instagram e já participou de uma série de podcasts contando suas experiências e técnicas para quem estiver interessado.

Nas redes sociais, ele publicou um vídeo comentando a operação. Disse que não teve acesso ao conteúdo das investigações e contou que teve a casa vasculhada somente por ser sócio de uma das empresas sob suspeita.

Batizada Hinsberg, a operação policial cumpriu 18 ordens de busca e apreensão em São Paulo, no Paraná e em Minas Gerais.

De acordo com a PF, o nome da operação faz alusão a Oscar Hinsberg, um químico que percebeu a possibilidade de converter compostos químicos em fenacetina -- principal insumo químico desviado no esquema -- e utilizado para o refino de droga.

O grupo sob investigação fazia vendas fictícias para multinacionais e usava “laranjas” para depósitos em espécie, como se fossem funcionários das grandes empresas.

A Polícia Federal já identificou 60 operações dissimuladas, totalizando o desvio de cerca de 12 toneladas de produtos químicos. E ainda há muito mais a investigar.

Outro caso que chamou a atenção, na semana passada, foi o do cantor Alexandre Pires. Ele é suspeito de ter recebido, em suas contas bancárias, R$ 1,3 milhão de uma mineradora suspeita de atividades ilegais.

A PF trabalha com a hipótese de que esse valor seja fruto de lavagem de dinheiro da exploração de ouro, sem licença, na terra indígena Yanomami.

Em relatório, a Polícia Federal afirma que o cantor agiu por “cegueira deliberada”, ao ignorar a possível origem criminosa do dinheiro transferido para suas contas.

O termo aqui empregado também designa um investigado que decide assumir o risco de determinada conduta e ignora sua possível ilegalidade.

Alexandre Pires foi alvo de busca e apreensão, prestou depoimento e acabou liberado. Mas ainda tem muito a explicar para as autoridades brasileiras.

Não se pretende aqui julgar se eles são culpados e se realmente participaram de atividades ilícitas ou se são ingênuos a ponto de acreditar que dinheiro brota com facilidade na conta corrente.

O que se precisa discutir é a falta de cuidado que muita gente tem na hora de investir seu patrimônio.

Acreditar em ganhos expressivos, muito acima dos pagos pelo mercado financeiro, quase sempre termina em confusão e prejuízo.

É importante deixar a ganância de lado e apostar em atividades seguras, bem lastreadas.

Só assim é possível ter certeza de que seu nome não sairá manchado nem a polícia vai bater à sua porta numa manhã de verão.