Dengue em alta deixa o País em alerta

Segundo os dados oficiais, o País teve 1,63 milhão de casos até outubro, alta de 17% na comparação com 2022

Por Cruzeiro do Sul

Aumento da doença preocupa

O Brasil registrou, em 2023, o segundo pior ano em número de casos de dengue. Os dados só não foram maiores que os registrados no ano 2015, tido como o período mais preocupante do século 21. A situação saiu do controle em todo o País. Sorocaba e Votorantim seguiram o mesmo caminho.

No acumulado até novembro, as duas cidades já tinham extrapolado, e muito, o número de casos confirmados de 2022. E o aumento foi significativo, apesar dos esforços das equipes de combate ao mosquito transmissor.

Em Sorocaba, computados os dados de janeiro a novembro, o total de casos atingiu a marca de 4.605, aumento de 326%. No mesmo período, três mortes foram registradas. Em Votorantim, o número de pessoas confirmadas com a doença chegou a 3.066 casos e dois óbitos foram confirmados.

Com a chegada do período chuvoso, o risco de uma nova elevação no número de casos é iminente. A água parada e o descuido de parte da população intensificam a probabilidade do surgimento de criadouros das larvas do mosquito transmissor, o Aedes aegypti.

A preocupação com o descontrole da dengue não é só do poder público local. O próprio Ministério da Saúde reconheceu a falta de competência da pasta, este ano, em enfrentar o problema. Segundo os dados oficiais, o País teve 1,63 milhão de casos até outubro, alta de 17% na comparação com 2022. O total nacional só é menor que o registrado em 2015, quando o Brasil também era governado pelo Partido dos Trabalhadores. Só que o total de 1,69 milhão de casos daquela época ainda pode ser superado já que falta computar os meses de novembro e dezembro. Em números absolutos, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo são os Estados que lideram o ranking de notificações. Foram mil óbitos registrados até o momento.

Nas duas últimas décadas, o número de casos anuais aumentou praticamente 12 vezes. No ano 2000, foram pouco mais de 135 mil registros. Um contraste e tanto com os números de 2023. Muitos tentam justificar essa alta por conta das dimensões continentais do Brasil, mas esse fator não pode explicar, por si só, todo o problema.

Os estudiosos do assunto associam o avanço explosivo da doença a medidas pouco eficazes no seu controle e a alterações no clima, que, com calor e chuvas, dão aos mosquitos um ambiente propício para se proliferar e chegar a novas áreas. De acordo com a avaliação deles, é necessário adotar medidas urgentes para controlar a transmissão da doença pelos mosquitos e oferecer a vacina principalmente para a população mais vulnerável, ou seja, os idosos e as pessoas com comorbidades.

Essa vacina contra a dengue até está disponível, mas o governo federal, orientado pelo Ministério da Saúde, preferiu não adquirir o produto este ano. Só quem tem bom poder aquisitivo conseguiu comprar o medicamento na rede privada.

A situação ficou tão grave que o ministério reconheceu que estamos em situação de emergência. Para tentar sanar a falha, com quase um ano de atraso, a pasta da Saúde anunciou que pretende oferecer a vacina contra a dengue pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio foi feito na quinta-feira, 21, pela ministra Nísia Trindade. Ela afirmou que a vacinação deverá começar em fevereiro, ainda no período de maior incidência da doença, que vai até abril/maio, mas que, por uma limitação da capacidade de produção do fabricante, não será possível oferecer uma vacinação em massa ainda.

Com um certo atraso, parte da população do Brasil vai poder se beneficiar dessa vacina, mas só o medicamento não será suficiente para combater o avanço da dengue. A tarefa maior vai continuar nas mãos da própria sociedade que precisa eliminar todos os possíveis criadouros existentes em cada casa, terreno e comércio. Só assim vamos impedir que o mosquito transmissor se espalhe por nossas ruas e bairros infectando milhares de pessoas. O desafio é grande e a hora é de colocar a mão na massa.