Há pouco o que celebrar em Belém
O mundo mudou da água para o vinho, mas a civilização, até hoje, não foi capaz de compreender a inutilidade desse embate sem sentido
Cristãos do mundo todo comemoram, nesta segunda-feira, 25 de dezembro, o nascimento do menino Jesus. Nas casas é hora de orar, de reunir a família, trocar sorrisos e abraços calorosos. O objetivo principal da festa é celebrar a chegada do Salvador, aquele que veio para mostrar à humanidade o amor de Deus para com suas criaturas.
O nascimento de Jesus foi cercado por muitos problemas. O exército romano havia recebido ordens expressas para impedir a vinda daquele que chegava com a fama de ser um líder com capacidade para mudar a mentalidade de todo um povo.
Maria e José precisaram se esconder, se esgueirar pelas sombras, até que fosse possível encontrar um lugar seguro para a concretização do parto. Belém acabou sendo o local escolhido. Lá, Jesus nasceu e iniciou sua peregrinação na consolidação do povo cristão.
Só que os festejos para comemorar mais um ano do nascimento de Jesus foram suspensos este ano, em Belém. A cidade está praticamente deserta, desde que o grupo terrorista Hamas atacou, em outubro, o território israelense provocando centenas de mortes. A reação de Israel foi imediata e uma verdadeira guerra, com poucos momentos de trégua, se instalou na região.
Belém fica em território controlado pelos palestinos. É preciso deixar Israel e cruzar a fronteira para chegar lá. Em momentos de tensão, como os atuais, os controles policiais são ainda mais rigorosos. Viajar pela região torna-se uma aventura penosa para fiéis e turistas.
A festa de Natal não foi totalmente cancelada em Belém. As liturgias irão acontecer na Basílica da Natividade, local onde, segundo a tradição, Jesus nasceu. Mas a cidade tem recebido poucos peregrinos e turistas. A decoração tradicional para a época foi eliminada. A iluminação das árvores de Natal foi suspensa, assim como os cortejos que cortavam a cidade. Diante do sofrimento da guerra, serão poucas as celebrações. Na praça principal, uma manjedoura feita de escombros, onde jaz um menino Jesus envolto em um lenço palestino, é uma das poucas lembranças ao ar livre da data que se comemora amanhã.
O papa Francisco tem concentrado seus últimos discursos em pedidos de paz e de entendimento entre Israel e os terroristas do Hamas, mas as negociações têm evoluído pouco. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas adiou, por alguns dias, a tomada de decisão sobre o tema. O presidente da casa sabe que o poder de veto dos Estados Unidos pode inviabilizar qualquer pressão extra sobre as ações de Israel.
Nos dias atuais, segundo estimativas do último censo do Gabinete Central de Estatísticas Palestino, cerca de 47 mil cristãos vivem na Palestina. A maioria pertence à Igreja Ortodoxa, embora quase todos os ramos estejam representados na região. A presença de cristãos é cada vez maior num local conhecido por ser o berço da religião. Para se ter uma ideia desse êxodo, no começo do século 20, os cristãos representavam cerca de 10% da população. Atualmente, não passam de 1% em Israel, 2,5% na Cisjordânia e uma fração em Gaza.
A continuidade do conflito vai acabar punindo todos, sem importar a religião. O território em disputa é vital para consolidar e manter as crenças tanto dos cristãos, como dos muçulmanos e dos hebreus. Os principais símbolos de todas essas religiões estão ali instalados. Só a retomada da paz pode permitir que cada um desses grupos volte a cultuar seus mais preciosos monumentos.
2023 anos se passaram desde o nascimento de Jesus. O mundo mudou da água para o vinho, mas a civilização, até hoje, não foi capaz de compreender a inutilidade desse embate sem sentido.
Que o Natal desse ano renove nossas esperanças de um mundo melhor, sem disputas territoriais, sem nenhum tipo de intolerância e cercado de amor e fé. Só assim poderemos viver melhor o ano que está por começar.