Janeiro tenso em Brasília
A indignação tomou conta de boa parte do parlamento, que se sente cada vez mais desprotegida das interferências do Judiciário
As férias do Congresso Nacional estão chegando ao fim. Semana que vem os trabalhos voltam tanto na Câmara dos Deputados como no Senado.
O ambiente entre os parlamentares não está nada bom. Muitos deles se preparam para uma enorme ofensiva contra os últimos atos do Executivo.
Os ânimos em relação ao Supremo Tribunal Federal também voltaram a se acirrar. Nos últimos dias, dois deputados ligados à oposição foram alvo de operações da Polícia Federal ordenadas pelo ministro Alexandre de Moraes.
Num dos casos, o líder da oposição, Carlos Jordy, teve sua casa invadida pelos agentes federais e vários equipamentos eletrônicos foram apreendidos.
A indignação tomou conta de boa parte do parlamento, que se sente cada vez mais desprotegida das interferências do Judiciário.
Nem mesmo o MDB, um aliado de primeira hora, tem demonstrado contentamento com as atitudes açodadas tomadas pelo Partido dos Trabalhadores.
A manobra para colocar Marta Suplicy na chapa de Guilherme Boulos na disputa pela prefeitura de São Paulo deixou marcas e pode custar caro para o governo.
Fora da esfera estritamente política, duas atitudes do presidente Lula prometem aumentar a temperatura no Parlamento neste início de 2024.
A primeira foi a Medida Provisória que prevê a reoneração da folha de pagamento de setores da economia. Deputados e senadores ficaram indignados uma vez que o assunto já tinha sido decido no plenário das duas casas, vetado pelo presidente e o veto derrubado.
Mexer com a desoneração prevista até o fim de 2027 é um vespeiro que vai garantir muitas picadas e dor ao Governo.
Há semanas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, tenta explicar o problema para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Só que a preocupação com o aumento da arrecadação é tão grande que Haddad não quer enxergar o tamanho da derrota que pode lhe ser imposta.
Para piorar as coisas, o presidente decidiu vetar parte do dinheiro reservado para as emendas do Legislativo incluídas no Orçamento da União.
O volume não foi pequeno, cerca de R$ 6 bilhões. Isso desagradou não só os deputados que apoiaram as últimas iniciativas do Planalto como o próprio presidente da Câmara, Arthur Lira.
A guerra nos bastidores já começou e há grande chance de mais um veto de Lula ser derrubado pelo Congresso.
O presidente aí teria de aceitar as imposições do Legislativo e a governabilidade ficaria cada vez mais difícil.
Além disso, o Executivo precisa da boa vontade de Lira para que a MP da reoneração, se não for devolvida por Pacheco, seja votada no plenário antes de expirar.
Se isso não ocorrer, tudo volta a ser como antes e o Tesouro vai deixar de arrecadar uma boa soma de dinheiro, podendo até inviabilizar o déficit zero prometido.
Dentro da Esplanada dos Ministérios a percepção que se tem é de que Lira vai endurecer o jogo.
A confiança nos acordos com o Governo ficou abalada com as últimas atitudes do presidente e o caminho para aprovação de projetos na Câmara pode ficar cada vez mais difícil.
É importante lembrar que este é um ano curto. A partir de junho, os parlamentares começam a se preocupar única e exclusivamente com as eleições municipais em seus redutos e vai ser praticamente impossível debater e aprovar projetos durante o período eleitoral. O recesso branco vai ser a tônica no segundo semestre.
Se a situação não está boa entre o Governo e os aliados do Centrão, a oposição promete muito barulho.
As ações da Polícia Federal contra dois parlamentares do grupo prometem render discursos inflamados.
Ainda mais se for confirmada a história de que os investigadores partiram de uma foto fake, manipulada digitalmente, para solicitar a busca e apreensão na casa do líder da oposição.
O ambiente está bastante conturbado em Brasília, vão ser necessários muitos panos quentes, jantares e conversas para diminuir a tensão.
A única certeza que existe no momento é que o Governo vai precisar ceder muito para não ficar paralisado.