De grão em grão

O Banco Central entende necessário manter um ritmo mais cauteloso de cortes para evitar que a inflação volte a subir

Por Cruzeiro do Sul

Em nota, o Copom informou que pretende continuar a reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua primeira reunião do ano, decidiu reduzir pela quinta vez seguida a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual. A Selic caiu de 11,75% para 11,25% ao ano. Os integrantes do conselho também criaram a expectativa de um novo corte, “de mesma magnitude”, nas próximas reuniões. Segundo o comunicado do Copom, “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Isso significa que o Banco Central entende ser necessário manter um ritmo mais cauteloso de cortes para evitar que a inflação volte a subir. O relatório destaca que o Brasil atravessa um bom momento econômico, mas ainda não existem indicações fortes da manutenção desse cenário.

O Copom procurou avaliar também a situação global. O momento requer muito cuidado diante do risco de uma guerra maior no Oriente Médio, ultrapassando as fronteiras de Israel e Gaza, e um recrudescimento do enfrentamento entre Rússia e Ucrânia.

Bancos centrais do mundo todo têm preferido apostar no conservadorismo a adotar cortes de juros mais profundos. No mesmo dia em que o Copom anunciou o corte de juros no Brasil, o Banco Central dos Estados Unidos também apresentou seu relatório.

Os integrantes do Federal Reserve (Fed) decidiram manter as taxas de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, e indicaram ser “improvável” que esse patamar comece a cair já na próxima reunião, marcada para março. O anúncio contrariou boa parte do mercado que esperava um cenário melhor para a economia ainda neste primeiro trimestre de 2024.

Com a decisão do Fed, as Bolsas de Nova York fecharam em baixa. As ações de empresas de tecnologia foram as mais afetadas. O setor, que já tem demitido milhares de funcionários nas últimas semanas, corre o risco de enfrentar uma crise ainda maior.

Na manhã de quinta-feira, o Banco da Inglaterra, seguindo a tendência dos Estados Unidos, decidiu manter sua taxa básica de juros em 5,25%, como esperado, embora a decisão tenha gerado uma certa controvérsia. Dois dirigentes votaram por elevar os juros em 25 pontos-base, um terceiro queria um corte da mesma magnitude, enquanto seis votaram pela manutenção. Esse resultado mostra que para muitos economistas o mundo ainda esconde um sério risco de retomada da inflação.

O Banco Central da Suécia (Riksbank), também optou por manter, nesta quinta-feira, sua taxa básica de juros em 4%. Entretanto, os suecos se mostraram um pouco mais otimistas que os ingleses e apontaram a possibilidade de antecipar cortes nas taxas, caso a inflação continue favorável.

O Riskbank avalia que, no momento, “há menos risco de a inflação se consolidar em níveis muito elevados”, observando que os preços estão caindo “significativamente” no país, ao mesmo tempo em que a atividade econômica desacelera e os salários crescem de forma moderada.

De volta ao Brasil, a decisão do Copom reafirmou a importância de perseguir as “metas fiscais estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária”. O recado para o Governo foi claro, se as regras do jogo combinadas no ano passado não forem mantidas, a situação do País pode piorar rapidamente e a inflação voltar.

A equipe econômica sabe que vai ser quase impossível cumprir a meta de déficit zero no orçamento. Já foi criado até um “plano de guerra” para reduzir o impacto dos cortes que terão que ser feitos já em março. A situação pode piorar ainda mais dependendo dos embates no Congresso Nacional. Se o Governo não convencer o Parlamento que é preciso aumentar os impostos e reonerar as folhas de pagamento das empresas, a queda de receita pode frustrar os planos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Como deputados e senadores vivem de votos, é pouco provável que um acordo que atinja o bolso do eleitor seja aprovado este ano.

Novos cortes de juros devem vir por aí, mas o Copom ainda vai levar um tempo para permitir que a Selic fique em apenas um dígito. O mercado sabe disso e promete aguardar até dezembro. Resta saber se o Governo Federal vai ter a mesma paciência e fazer a sua parte.