Alerta geral para a dengue
Basta dar uma volta pelos bairros da maioria das cidades para notar que cuidados essenciais estão sendo desrespeitados
O Brasil ultrapassou a marca de 1,2 milhão de casos de dengue, segundo o Ministério da Saúde. Esse número representa mais de cinco vezes o registrado em janeiro e fevereiro de 2023, quando 207.475 infecções foram notificadas.
A rápida expansão da doença acende o sinal de alerta no País, nos Estados e nos municípios. A região Sudeste apresenta a maior concentração de casos junto com Goiás, Paraná, Acre e Santa Catarina.
O Distrito Federal lidera o coeficiente de incidência e Minas Gerais é o Estado com maior número de casos prováveis, com 407.977 até segunda-feira.
Sete Estados (São Paulo, Goiás, Acre, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina) e o Distrito Federal decretaram emergência de saúde pública em poucas semanas.
David Uip, diretor nacional de Infectologia da Rede D’Or e reitor do Centro Universitário da Faculdade de Medicina do ABC, disse, em entrevista à Folha de São Paulo, que o pico da dengue acontecerá em épocas diferentes no País: no Sudeste e Sul entre fevereiro e março; no Nordeste e Norte de um a dois meses depois.
“A incidência está diferente pelo País”, diz Uip, que já foi secretário da Saúde e da pasta de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde de São Paulo.
Até segunda-feira, dia 4, havia 278 mortes confirmadas pela doença no País e outras 744 estavam sob investigação. Na semana passada, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, se reuniu com os secretários estaduais de Saúde para mobilizar os Estados em torno das ações de prevenção e eliminação dos focos do mosquito.
Durante o encontro, a ministra enfatizou a necessidade da união dos entes da federação para o enfrentamento do surto da doença. “Este é um momento de atenção não só das autoridades sanitárias, do Ministério da Saúde, mas também de toda a sociedade”, alertou.
A atuação das prefeituras não deve ser diferente. Medidas preventivas já deveriam ter sido tomadas há bastante tempo. Basta dar uma volta pelos bairros da maioria das cidades para notar que cuidados essenciais para se evitar a proliferação do mosquito transmissor estão sendo desrespeitados.
Terrenos baldios e margens de córregos têm lixo e materiais descartáveis que facilmente servem de criadouro. Há ainda imóveis abandonados ou vazios (ara venda ou aluguel) que podem acumular entulho no quintal ou corredores laterais.
Sorocaba chegou aos 1.348 casos de dengue, como divulgado na segunda-feira. Duas mortes estão em investigação. E o prefeito Rodrigo Manga decretou situação de emergência.
Os horários de três Unidades Básicas de Saúde (UBSs) -- Vila Fiori, Vila Hortência e Jardim Simus -- foram ampliados das 19h às 22h para atender exclusivamente doentes de dengue. Manga disse que o objetivo é preparar o sistema de saúde para um possível aumento ainda maior das notificações no município.
O secretário municipal de Saúde, Cláudio Pompeo, ressaltou que os atendimentos a pacientes com sintomas da doença continuarão nas outras Unidades Básicas, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Unidade Pré-Hospitalar (UPHs). Mas o ideal, segundo ele, é essas pessoas irem às UBSs com o funcionamento estendido, a fim de desafogar as UPAs e UPHs.
A Prefeitura de Sorocaba informou que vai reforçar as medidas de prevenção, como nebulização e recolha de materiais inservíveis nos bairros, além de multa a donos de terrenos sujos. Outras ações poderiam envolver a população, como em mutirões, ou mesmo as empresas imobiliárias, no sentido de vistoriar imóveis desocupados.
Até o Exército entrou nessa guerra contra a dengue. Militares participaram do “Dia D” de mobilização contra a doença, na sexta-feira (1º), no Estado de São Paulo. A força armada também participa do Centro de Operações de Emergências (COE), coordenado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Novas ações e estratégias de enfrentamento à doença estão sendo preparadas e devem ser divulgadas nos próximos dias.
É hora de conversar com vizinhos, tomar providências gerais de limpeza a fim de evitar a proliferação desse pequeno mosquito que, apesar do tamanho, pode derrubar um grande número de pessoas.