Descascar mais e desembalar menos
Apesar do cenário preocupante, a alimentação saudável não faz parte do cotidiano da maior parte das pessoas
“A saúde começa na mesa”. Essa é uma frase antiga e que guarda um rico ensinamento popular, o de que a vida saudável passa, obrigatoriamente, por uma alimentação de qualidade. No Brasil, o clássico arroz com feijão, bife, batata e salada, tem perdido espaço para comidas industrializadas, lanches rápidos, alimentos com baixo poder nutritivo e altos índices de açúcar, gordura e sódio. Com essa combinação, assistimos a um aumento vertiginoso de doenças ligadas à alimentação como diabetes, hipertensão e obesidade.
Em junho de 2023, um estudo da Universidade Federal de Pelotas/RS (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies mostrou que 56,8% dos brasileiros estão com excesso de peso. A taxa chega a 68,5% na faixa etária com idade entre 45 e 54 anos e a 40,3% entre os mais jovens, com 18 a 24 anos. O mesmo estudo apontou que 10,3% da população tem diagnóstico médico de diabetes e 26,6% receberam o diagnóstico de hipertensão arterial.
Apesar deste cenário preocupante, a alimentação saudável não faz parte do cotidiano da maior parte das pessoas. De acordo com a pesquisa, menos da metade da população no Brasil (45,5%) consome verduras e legumes cinco vezes ou mais na semana. O mesmo acontece com a ingestão de frutas: 41,8% dos brasileiros tem frutas na dieta cinco vezes ou mais por semana. A faixa etária que mais consome esses alimentos é a das pessoas com 65 anos ou mais, sendo que 45,5% consomem verduras e legumes na frequência semanal recomendada.
Na última terça-feira (5), o governo federal divulgou a nova lista dos produtos que compõem a cesta básica nacional e, consequentemente, terão menor incidência de impostos. Ou seja, devem ficar com preços mais atrativos ao consumidor final. A nova cesta básica terá alimentos de dez grupos diferentes: feijões (leguminosas); cereais; raízes e tubérculos; legumes e verduras; frutas; castanhas e nozes (oleaginosas); carnes e ovos; leites e queijos; açúcares, sal, óleo e gorduras; café, chá, mate e especiarias.
O objetivo é fazer o brasileiro comer menos ultraprocessados como embutidos, salgados, bolachas, refeições congeladas, entre outros. De acordo com o governo, a nova composição da cesta básica de alimentos está alinhada com as recomendações e princípios dos guias alimentares brasileiros do Ministério da Saúde, que definem as diretrizes oficiais sobre alimentação saudável para a população. A regulamentação insere na cesta mais alimentos in natura ou minimamente processados, além de contemplar produtos regionalizados. A ideia, então, é que se abra menos pacotes de comidas industrializadas e descasque-se mais frutas, verduras e legumes, em referência ao preparo de alimentos naturais.
Estimular a alimentação saudável barateando produtos in natura e regionais pode ser também uma questão estratégica para o governo. A ideia é que a longo prazo haja redução nos gastos com a saúde da população. É a valorização da sabedoria popular de que “prevenir é melhor do que remediar”.