Luta contra crime organizado tem uma terça-feira histórica
A terça-feira, 9 de abril, foi um dia histórico para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), Polícia Militar (PM), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Receita Federal, a partir da deflagração da Operação Fim da Linha, que, na esteira da Operação Sharks, tem como objetivo desbaratar duas organizações criminosas que lavam recursos ilícitos do PCC — principal facção criminosa de São Paulo — provenientes de tráfico de drogas, roubos e outros delitos por intermédio de duas empresas de ônibus — a Upbus e a Transwolff — responsáveis pelo transporte de cerca de quase 700 mil passageiros diariamente na cidade de São Paulo e que receberam mais de R$ 800 milhões de remuneração da prefeitura paulistana em 2023. Tudo fundamentado em análises bancárias, fiscais, telemáticas, societárias e patrimoniais, bem como em relatórios e informações dos Tribunais de Contas do Estado e do município de São Paulo.
A Operação Fim da Linha mobilizou 64 membros do MPSP, 43 integrantes da Receita Federal, dois agentes do Cade, 340 policiais militares e agentes do setor de inteligência da PM. Os agentes saíram às ruas para cumprir quatro mandados de prisão e 52 de busca e apreensão expedidos pela 1ª e pela 2ª Varas de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital. Os trabalhos resultaram na prisão de seis pessoas, sendo uma em flagrante, e na apreensão de 11 armas, 813 munições diversas, R$ 161 mil, computadores, HDs e pen drives, assim como de dólares e barras de ouro. Além disso, as investigações levaram ao bloqueio de R$ 596 milhões. Veículos, lanchas e motos aquáticas também estão entre os itens retidos.
Ao final da tarde da terça-feira, as autoridades envolvidas estavam satisfeitas com o resultado da operação, porém cautelosas, pois ainda há muito trabalho a fazer no combate ao crime organizado. O promotor de Justiça do Gaeco, Lincoln Gakiya, alertou que o PCC tem assumido contornos de uma máfia, com a infiltração em poderes do Estado. As empresas de ônibus ligadas à facção atuavam na Capital após vencerem licitações públicas a partir do uso de compensações fraudulentas e de holdings com a intenção de dissimular a propriedade de bens.
Há a possibilidade de haver mais empresas semelhantes atuando também em São Paulo e em outras cidades paulistas. “O que nos preocupa é que a organização está tomando tamanho de máfia, se infiltrando no Estado, participando de licitações de Estado. Isso é característico de máfias, como a gente já viu na Itália. E essa operação está atuando na asfixia financeira desse grupo”, disse o promotor Lincoln Gakiya.
O secretário de Estado da Segurança Pública, Guilherme Derrite, destacou a parceria entre o Gaeco e a Polícia Militar no cumprimento dos mandados e a importância da participação da Receita Federal para dar maior robustez na batalha que é minar o poder financeiro do grupo criminoso. “É inaceitável que chefes de facção figurem como grandes empresários”, enfatizou Derrite.
A Operação Fim da Linha pôs sua força tarefa nas ruas na terça-feira, mas o trabalho vem sendo realizado há muito tempo e sua análise aponta movimentações que indicam a prática de uma série de crimes, incluindo a compra de empresas e a entrada em quadros societários feitas com o objetivo de dar ar de legalidade a valores resultantes de condutas ilícitas.
Somente um dos alvos da operação possui um imóvel avaliado em R$ 10 milhões, mas que foi declarado com o valor de R$ 800 mil. A investigação revela a distribuição indevida de dividendos das empresas ligadas ao crime organizado. Um dos sócios recebeu R$ 14,8 milhões sem recolher um centavo de tributo. Um dos empresários, por exemplo, foi preso dentro de sua mansão, construída em um condomínio de luxo em Itu, na Região Metropolitana de Sorocaba.