Também é importante falar em chikungunya

Por Cruzeiro do Sul

A dengue segue adoecendo pessoas e, em alguns casos, levando à morte. O mosquito Aedes aegypti é um inimigo declarado da saúde pública. Até ontem (13), Sorocaba contabilizava 18.487 casos confirmados, com 13 óbitos em investigação e outros 13 confirmados.

Mas o mosquito não dissimina apenas a dengue. O Aedes aegypti também é o transmissor da zika vírus e chikungunya. A zika é assintomática ou apresenta uma doença febril autolimitada.

Entretanto, a associação da infecção viral com complicações neurológicas como microcefalia congênita e síndrome de Guillain-Barré (SGB) foi demonstrada por estudos realizados durante surtos da doença no Brasil e na Polinésia Francesa.

A infecção por chikungunya é caracterizada por febre aguda associada a dores articulares, que podem variar de artralgia leve (dor em apenas uma das articulações) a poliartrite intensa e debilitante que dura meses ou até anos. As infecções assintomáticas podem representar, de acordo com estudos anteriores, até 25% dos casos.

As três arboviroses são transmitidas pela picada de fêmeas infectadas do gênero Aedes.

Porém, enquanto, em Sorocaba e em várias outras cidades brasileiras, a dengue está matando, não há notificações oficiais de casos de zika e chikungunya na cidade. Mas, todo o cuidado é pouco e o combate ao Aedes aegypti é mais do que necessário.

Conhecido por provocar epidemias massivas até mais impactantes que as de dengue, o vírus do chikungunya pode também apresentar um perfil menos intenso. Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) mostrou que o vírus circulou pela cidade do interior paulista de forma silenciosa por anos, provocando inicialmente poucos casos da doença e aumentando, de forma gradativa, o número de infecções. A descoberta reforça a importância de ações de vigilância epidemiológica para prever eventuais epidemias.

“A circulação crítica do chikungunya pode preceder epidemias massivas, com exposição de grande parte da população e grande impacto na saúde pública e na vida das pessoas. Os resultados do nosso estudo, portanto, reforçam a necessidade da implementação de estudos epidemiológicos, genômicos, monitoramento de mosquitos e de vigilância epidemiológica. Com isso, seria possível se preparar com antecedência para uma epidemia de chikungunya”, alerta Maurício Lacerda Nogueira, professor da Famerp e autor do estudo publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases.

O novo perfil de circulação do chikungunya, identificado no estudo realizado no interior paulista, não minimiza seu potencial como ameaça à saúde pública. “O chikungunya continua exigindo a estruturação de uma rede de saúde voltada para o atendimento de uma doença que traz graves consequências para a saúde dos infectados. A fase crônica da doença, marcada por dores nas articulações, é muito incapacitante e pode persistir por anos. Fora isso, o risco de futuras epidemias continua alto, apenas descobrimos que elas podem ser mais previsíveis”, diz o pesquisador.

Maurício Nogueira explicou que a pesquisa buscava entender por que ainda não havia ocorrido uma grande epidemia de chikungunya em São José do Rio Preto, mesmo sabendo que havia a circulação do vírus. Identificamos que, além de o número de infecções não ser tão massivo, como foi em outros lugares, trata-se de uma doença muito subnotificada. Isso acontece seja pelo fato de haver uma alta taxa de casos assintomáticos, como encontramos no nosso estudo, seja pela possibilidade de confusão de diagnóstico com a dengue. No ano passado, houve uma grande dispersão territorial do vírus e, atualmente, todos os Estados brasileiros registram transmissão do arbovírus. Então, é preciso ficar atento.