O tabagismo, o livre arbítrio e as doenças
Estudo feito por pesquisadores da Fundação do Câncer (www.cancer.org.br) aponta que o tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. O trabalho foi apresentado nesta quinta-feira (16) no 48º Encontro do Group for Cancer Epidemiology and Registration in Latin Language Countries Annual Meeting (Grell) 2024, na sigla em inglês, na Suíça.
O epidemiologista Alfredo Scaff, consultor médico da Fundação do Câncer, disse que o estudo visa apresentar para a sociedade dados que possibilitem ações de prevenção da doença. “O câncer de pulmão tem uma relação direta com o hábito do tabagismo. A gente pode dizer que, tecnicamente, é o responsável hoje pela grande maioria dos cânceres que a gente tem no mundo, e no Brasil, em particular.”
O câncer é considerado um problema de saúde pública em todo o mundo e sua incidência cresceu 20% na última década. No Brasil, é a segunda causa de morte por doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa para 2030, em todo o mundo, é de 27 milhões de novos casos e 17 milhões de óbitos. Os países em desenvolvimento serão os mais afetados, incluindo o Brasil. A doença é uma das grandes preocupações mundiais em políticas de saúde. Frente a esse cenário, é fundamental a participação de toda sociedade no combate ao câncer.
E o que o fumante pode fazer para ajudar a diminuir essa estimativa? No site do Instituto Nacional do Câncer (www.gov.br/inca/pt-br), há 100 razões para não fumar. Entre elas, destacam-se: fumantes têm maior risco de desenvolver quadro grave de doenças respiratórias; fumar ou usar tabaco sem fumaça causa mau hálito; o tabaco deixa sua pele enrugada, fazendo você parecer mais velho mais rápido; fumar envelhece a pele prematuramente ao desgastar as proteínas que dão elasticidade à pele, esgotando a vitamina A e restringindo o fluxo sanguíneo. E por aí vai. O tabagismo não causa só o câncer de pulmão, mas leva à destruição dos dentes, lesões de orofaringe, enfisema, hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou derrame, entre outras doenças.
Nos últimos tempos, surgiu o dispositivo eletrônico, prometendo ser uma alternativa para os fumantes abandonarem o cigarro industrializado e minimizar os danos do tabaco. Não é verdade! O epidemiologista Alfredo Scaff acredita que o cigarro eletrônico poderá contribuir para aumentar ainda mais o percentual de óbitos do câncer de pulmão provocados pelo tabagismo. “O cigarro eletrônico é uma forma de introduzir a juventude no hábito de fumar.” O especialista lembrou que a nicotina é, dentre as drogas lícitas, a mais viciante. O consultor da Fundação do Câncer destacou que a ideia de usar cigarro eletrônico para parar de fumar é muito controvertida porque, na maioria dos casos, acaba levando ao vício de fumar. “E vai levar, sem dúvida, ao desenvolvimento de cânceres e de outras doenças que a gente nem tinha.”
O cigarro eletrônico causa uma doença pulmonar grave e aguda, denominada Evali, que pode levar a óbito, além de ter outro problema adicional: a bateria desse cigarro explode e tem causado queimaduras graves em muitos fumantes. “Ele é um produto que veio para piorar toda a situação que a gente tem em relação ao tabagismo.” Ou seja, só malefícios.
Os defensores do cigarro — convencional ou eletrônico — defendem que fumar melhora a cognição, memória, atenção e humor, além de reduzir a ansiedade. Dessa forma, algumas pessoas podem dizer que fumar dá prazer e é relaxante, outras podem justificar falando que o cigarro lhes anima e, assim, fica mais fácil de se relacionar com os outros. Algumas pessoas podem argumentar que usam o tabaco para manter-se alerta ou para se esquecer das obrigações e preocupações. Mas, será que esses “benefícios” justificam o risco de ficar doente e precisar passar por um tratamento doloroso e dispendioso. O livre arbítrio permite tudo, mas nem tudo é conveniente. Fica a reflexão.