Por que produzir um dano contra si mesmo?
Tem hábitos que não se alteram, ainda que tragam prejuízos à saúde e ao patrimônio público e privado e, também, representem ameaça à vida de pessoas, da fauna e flora, ou seja, riscos e consequências incalculáveis.
Um desses hábitos questionáveis é colocar fogo em mato (ou na mata), principalmente durante o período de estiagem, pelo qual estamos passando. Mas, mesmo com todos os alertas, campanhas de conscientização e, até mesmo, com danos irreversíveis, entra ano, sai ano, sempre nesta época, o que se vê é a imprudência em forma de fogo e fumaça por todos os lados do perímetro urbano e nas áreas rurais.
Muitas vezes, o fogo colocado no mato foge da intenção por imperícia no manuseio da técnica da queima controlada, mas tantas outras vezes é colocado por maldade mesmo. Há, ainda, o descuido ao atirar bituca acesa de cigarro em área com mato seco e, aí, está feito o estrago.
Não à toa, o Centro de Gerenciamento de Emergência da Defesa Civil estadual publicou, nesta semana, o Mapa de Risco de Incêndio com a previsão de riscos de incêndio em todo o Estado. A situação é mais crítica nas regiões central e oeste. A cor roxa indica o grau máximo de risco para esses locais.
O Mapa de Risco de Incêndio é uma das ferramentas tecnológicas que auxiliam a Defesa Civil no monitoramento de queimadas em vegetação durante o período da estiagem. O software funciona 24 horas por dia e é feito a partir de algoritmos que compilam dados sobre elementos como o nível de chuva dos últimos dias, cobertura vegetal, umidade do ar e do solo, temperatura e velocidade do vento. Deste modo, ele disponibiliza modelos com previsão. A escala possui quatro níveis e vai do risco baixo ao risco emergência.
Diariamente, o Mapa de Risco de Incêndio é enviado para todas as coordenadorias municipais. As que estão inseridas em uma área com risco mais elevado recebem um indicativo de alerta. Deste modo, são adotadas medidas de prevenção como vistoria nas áreas mais suscetíveis às queimadas, construção de aceiros e intensificação das campanhas de conscientização junto à população.
A explicação para o risco elevado de incêndios florestais é a ausência de chuva e a baixa umidade relativa do ar em todo território paulista. “O Estado de São Paulo possui um outono e inverno com climatologia de tempo mais seco, com tendência para que a Umidade Relativa do Ar diminua significativamente, atingindo níveis mais críticos diariamente, ou seja, valores abaixo dos 30% em praticamente todas as áreas monitoradas”, explica Willian Minhoto, meteorologista da Defesa Civil.
De acordo com o Mapa de Risco de Incêndio, a Região Metropolitana de Sorocaba, incluindo a cidade sede, está inserida no estado de alerta para incêndio em mata. Estudos promovidos pelo governo paulista mostram que em 2023 mais de 90% dos 158 focos de incêndio em áreas protegidas tiveram como causa ações humanas que poderiam ter sido evitadas, de acordo com o Painel Geoestatístico dos Incêndios Florestais em Unidades de Conservação e Áreas Protegidas, da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística. É bom frisar: “poderiam (e deveriam) ter sido evitadas”, levando em conta que até mesmo quem coloca fogo no mato é prejudicado pela sua ação. Não soa estranho a pessoa produzir um dano contra si mesma?
Diante disso, medidas de prevenção devem ser adotadas também pela população, como: não colocar fogo em áreas de vegetação seca, não jogar bitucas de cigarro em beiras de rodovias, não realizar a limpeza da área rural utilizando técnicas com fogo, não queimar lixo nem soltar balão.
Vale enfatizar que causar incêndio em mato contraria a legislação específica e é considerado crime ambiental , assim como fabricar, vender, transportar ou soltar balões, que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano, é um crime ambiental, com pena de detenção de um a três anos ou multa, ou ainda ambas as penas cumulativamente.