Estoque zerou e agora?
Aconteceu o que todo mundo sabia que aconteceria. O estoque de vacinas contra a dengue em Sorocaba está zerado. A última dose foi aplicada na quarta-feira (19), na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Barão. Agora, a pasta responsável pela imunização aguarda uma nova remessa do Ministério da Saúde (MS) para que a campanha seja retomada.
O problema de saúde pública vivida na cidade se repete por muitas outras cidades Brasil afora.
Interessante lembrar que integrantes do atual governo — inclusive o mandatário do Executivo — brandavam — como se fossem eles os donos da razão — duras críticas ao antigo governo sobre a questão da vacina contra a Covid-19. Diziam eles que fariam tudo diferente, mas, ao que parece, não o fizeram quando tiveram a oportunidade no caso da Qdenga, o imunizante contra a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
Num passado não tão recente assim, o governo do presidente Lula foi criticado por ter demorado mais de nove meses para comprar a vacina contra a dengue, depois que ela foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março do ano passado, com a garantia da segurança e eficácia do medicamento, comprovadas com dados técnicos e científicos. Em resposta às críticas, o Ministério da Saúde afirmou que todo o processo demorou — apenas — 144 dias, entre o pedido da farmacêutica e a compra pelo Sistema Único de Saúde.
A verdade é que é mais fácil ser pedra do que vidraça. Mas, sem qualquer margem para a dúvida, o fato do Ministério da Saúde ter incorporado a vacina contra a dengue no SUS foi louvável e providencial. A incorporação do imunizante foi analisada de forma célere pela Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS e passou por todas as avaliações da comissão que recomendou a incorporação. O Brasil foi o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. Porém, a Qdenga não estaria disponilizada a todos os brasileiros em um primeiro momento, já que o laboratório fabricante, Takeda, afirmou que tem uma capacidade restrita de fornecimento de doses. Por isso, a vacinação foi focada em público e regiões prioritárias. Mesmo assim, o imunizante não foi suficiente nem para o restrito público.
A justificativa da fabricante é procedente. O imunizante da Qdenga é um produto “novo”. Porém, em 2015, foi aprovada no Brasil a primeira vacina contra a dengue, a Dengvaxia, disponibilizada apenas em clínicas particulares. Além disso, todos sabem — comunidade agentes de saúde e, principalmente governantes — que a dengue é uma doença que tem um padrão sazonal: a maioria dos casos no hemisfério sul — onde estamos — ocorre na primeira parte do ano e a maioria dos casos no hemisfério norte ocorre na segunda metade. A prevenção e o controle da dengue devem ser intersetoriais e envolver a família, comunidade e, claro, quem governa.
Embora o período crítico da dengue esteja próximo do seu final, a doença continua matando. No entanto, tem mais um alerta em monitoramento. Especialistas em saúde pública já observaram que um novo aumento de casos de dengue comece a acontecer a partir de novembro deste ano, ou seja, uma antecipação do ciclo crítico. Isso muito em função dos efeitos climáticos. Essa tendência deve se repetir ano após ano a partir de agora. Então, é tudo previsível. Falta, portanto, bom planejamento e boa vontade política para fazer as coisas acontecerem.
É sabido que a falta da vacina é um problema industrial, afinal nem mesmo a rede privada conta com a segurança de ter o imunizante. Mas, também nem todos têm acesso à saúde paga. A maioria dos brasileiros depende da rede pública, do SUS. A minoria, como o presidente Lula se vacinou contra a dengue na rede privada. Segundo informa a Folha de S. Paulo, Lula recebeu sua dose particular no dia 5 de fevereiro. Uma solução para todos é que a vacina contra a dengue que vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan seja o mais breve possível aprovada e disponibilizada ao público na rede pública.