Yes, nós temos arroz

Por Cruzeiro do Sul

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse nesta semana que, agora, o governo federal não vê mais necessidade de realizar leilões para importação de arroz. “É mais prudente, já que os preços cederam, que a gente tome outras atitudes de estímulos à produção, mas por ora não se fazem necessários novos leilões de importação (de arroz)”, disse o ministro, em entrevista à GloboNews na terça-feira (2), ressaltando que, apesar da avaliação atual, o governo mantém orçamento e está preparado para eventuais novas aquisições do grão.

O ministro não ressaltou, porém, que o governo havia adiado um leilão, em junho, e anulou outro em razão da falta de qualificação das empresas vencedoras. O presidente Lula chegou a dizer que houve “falcatrua” no leilão anulado. Em 6 de junho, o governo federal, realizou, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o primeiro leilão para a compra de arroz beneficiado importado, em formato eletrônico, na modalidade “viva-voz”. À época, no total, foram adquiridas 263.370 mil toneladas para abastecer os estoques públicos ao custo de pouco mais de R$ 1,3 bilhão. O negócio não foi adiante.

Fávaro também não falou que a decisão de realizar os leilões de arroz irritou os produtores de arroz do Rio Grande do Sul. O Estado — o maior produtor de arroz do Brasil — foi afetado por um grave desastre climático. Os produtores gaúchos haviam dando a garantia de que a safra riograndense já havia sido quase toda colhida, estava estocada, e que a medida poderia ser injusta para os agricultores brasileiros. Mesmo assim, houve o frustrado leilão, cancelado após a constatação de irregularidades e dois altos executivos, o secretário de política agrícola e o diretor da Conab, foram demitidos. O dinheiro “destinado” à compra do arroz importado — e não é pouco recurso — poderia ser todo empenhado a ajudar os produtores gaúchos em forma de novos caminhos e infraestrutura em mobilidade para que o Estado gaúcho possa escoar tudo o que produz. É isso que o Rio Grande do Sul espera.

O importante é que a “pauta” arroz continua a frequentar a agenda do Ministério da Agricultura e Pecuária. Nesta quinta-feira (4), após se reunir com representantes da indústria e produtores de arroz, o governo federal firmou um compromisso para monitorar preços e estoques do produto no País.

“Já que todos concordamos que há arroz suficiente, esse arroz tem que chegar rápido à mesa, com preço justo e bater a especulação. Vamos monitorar. Na medida em que os preços normalizem e não haja especulação, não se faz mais necessário ter leilão”, disse o ministro Carlos Fávaro. Pelo menos, agora, o foco é no arroz brasileiro.

“Foi toda uma polêmica. Com o edital, só depois é que a gente sabe quem são os vendedores do arroz e aqui não estou fazendo nenhuma crítica pessoal. Parecia que nem todos teriam capacidade técnica para entregar arroz de qualidade. E nós temos que ter responsabilidade com o dinheiro público. Tomamos a decisão difícil de cancelar o leilão e monitorar os preços do arroz”. Enquanto os eventuais vendedores do cereal importado não têm capacidade técnica exigida, sobra competência aos produtores gaúchos.

Para o ministro, o cancelamento do pregão serviu para “dar um freio de arrumação”. “A especulação no Mercosul cessou, os produtores gaúchos puderam começar, junto com a indústria, a normalizar as entregas. Ainda há algumas regiões onde o preço está elevado, mais longe da região produtora. Por exemplo: em Manaus, o preço do arroz ainda está fora do normal. Em Recife, ainda está fora da normalidade”. Esse monitoramento é essencial ao País que procura equilibrar a economia em nome do controle da infração.

“Paralelo a isso [monitoramento de preços e estoques], vamos estimular o plantio de arroz. É determinação do presidente que a gente plante mais arroz, que a gente tenha arroz como temos soja, milho, carne bovina e suína, aves. Em abundância. Se sobrar, vamos exportar, gerar renda no campo e excedentes na balança comercial brasileira”, avisou Fávaro. Eis uma boa notícia que vem do governo. Parodiando a famosa marchinha carnavalesva de Braguinha e Alberto Ribeiro: “Yes, nós temos arroz”.