A cartilha dos homens públicos
O ano de 2019 marca o início extraoficial da corrida eleitoral para as prefeituras. Na metade do mandato, os prefeitos já não podem alegar falta de recursos ou imputar responsabilidade a administrações anteriores. Ou deveriam ter em mãos uma investigação, auditoria criteriosa para livrarem-se dessa responsabilidade. O ano antes das eleições para prefeito é, também, o ano das obras marcantes para impactar o eleitorado. Assim diz a cartilha dos que governam com olhos num segundo turno, seja para eles próprios ou para seus correligionários.
A questão primordial, no entanto, e nada errado com isso, é quando o foco das ações visa ao bem público. Muitas vezes a ação simples do bem público é cuidar do existente, não destruir o já feito, ou mesmo, ampliar o bem-sucedido. A arte da gerência municipal também está nas questões pequenas, de pequenos voos, de fácil realização e de grandes benefícios, como cuidar do meio ambiente, por exemplo. Como facilitar a vida do cidadão que pega um ônibus lotado e tem um trajeto que mais parece um roteiro excursionista? Como responder ao cidadão que reclama de uma conta pública? Como melhorar o atendimento à saúde para que as pessoas se sintam tratadas com respeito, dignidade e, sobretudo, com humanidade? Humanidade, aliás, é uma palavra cada vez mais esquecida pelo Leviatã das cidades modernas: vorazes na arrecadação de tributos e comedidas no atendimento ao cidadão.
Outra maneira que a governança pública se prepara para se conduzir a um segundo turno, que espera bem-sucedido, é a mudança de secretariado. Justo, legítimo. É assim que se faz uma avaliação do que funciona ou não. A troca de secretários de governo é o rejuvenescimento e o oxigênio que toda administração tem direito. Novos nomes, em especial aqueles de maior expressão para ocupar pastas desgastadas, solução que pode trazer prestígio a um governo em processo de desgaste. Melhor que isso só a mudança de nomes que enfraquecem o governo pelo não cumprimento de objetivos, datas, prazos ou que possam dar informações não reais à opinião pública.
A cartilha não escrita da reeleição prossegue com outras recomendações e observações e cada administrador público tem sua própria receita. Muitos tem seu próprio ensinamento. Mas todos, nessa época de manifestação fácil de opinião ou da simplicidade de gostar ou não, devem ter ouvidos e olhos atentos. Isso se aplica também aos potenciais candidatos da Câmara de Vereadores que têm mostrado mais vontade em ação entre si, entre amigos. Cabe aos profissionais do Legislativo que se comportem apropriadamente e legislem a favor da cidade e não para seus objetivos partidários ou pessoais.
Cabe a todos o foco na eficiência ao gerenciar a coisa pública pois são, todos, servidores públicos.
Quando observamos o que está acontecendo em Sorocaba e região, a maratona para as eleições de 2020 já começou. Os candidatos vão formando suas bases, ocupando espaços que possam lhes dar projeção pública e, se possível, um pequeno ganho de reconhecimento aos seu nome, sempre que possível ligado a temas que interessam e o apontem como um expert.
Observa-se também em nossa região o envolvimento com questões menores, minúsculas, que pouco trazem de ganho à população -- ou a segmentos desta -- e que fica muito mais no jogo de quem pode mais, ou pior, “faço porque posso”. Ao mesmo tempo que esse tipo de atitude e desmandos cria danos quase irreparáveis à imagem pública do autor da suposta façanha, não é um ato que beneficie o cidadão. Os interesses da cidade e da região devem ser o objetivo final do administrador e não o ego de quem cria esses factóides.
O índice de rejeição de qualquer candidato novo ou daquele à reeleição é um dos maiores paradigmas a serem vencidos em termos de opinião pública. Chega muitas vezes a ser insuplantável uma vez que a rejeição se consolida. A única maneira de superar essa barreira é se houver um outro candidato adversário que tenha um índice igual ou superior em sua rejeição, sobrando aos eleitores exatamente isso, a escolha entre sobras não desejadas.
Sorocaba e cidades da região têm índices de qualidade de vida, desenvolvimento industrial, atendimento escolar, segurança, como poucas outras cidades no Brasil. Esse é um privilégio e uma conquista, como tem sido apontado aqui por diversas vezes, que não precisa preservado, apenas. Em especial, deve ser respeitado e não motivo de disputa política. Por que somos, cidadãos, a finalidade e objeto único de qualquer administração pública.