A moto e a vida
Durante esta semana, a Urbes - Trânsito e Transportes iniciou uma campanha para tentar diminuir o número de acidentes nas ruas de Sorocaba envolvendo motociclistas. O programa Motociclista Seguro tem como objetivo conscientizar os motociclistas a pilotar de maneira correta, dentro dos limites de velocidade e observando as leis de trânsito. Os dados sobre acidentes envolvendo veículos motorizados de duas rodas são alarmantes. De janeiro a outubro deste ano, 1.215 pessoas foram vítimas de acidentes de trânsito com motos na cidade. Segundo a Urbes, que gerencia o trânsito em Sorocaba, esse número é 14,6% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. O número de acidentes também cresceu proporcionalmente, passando de 849 no mesmo período de 2018 para 981 neste ano, uma alta de 15,5%. Durante todo o ano passado pelo menos 40 pessoas morreram em consequência de acidentes de moto no município, 72% nas vias urbanas.
Sorocaba tem uma frota de 96 mil motos circulando segundo informações do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) e cresceu pouco de um ano para outro (2,9%), uma tendência nacional de lenta recuperação do setor da crise econômica que começou em 2014. Frota de motos representa 20% do total de veículos que circulam pelas ruas de Sorocaba. Um levantamento divulgado no mês de agosto passado, com base em dados do seguro Dpvat -- extinto pelo governo por Medida Provisória e que ainda será examinado pelo Congresso -- mostra que nos últimos dez anos, pelo menos 200 mil pessoas morreram no País e pelo menos 2,5 milhões de brasileiros se tornaram permanentemente inválidos para o trabalho. Se incluídos os acidentados com sequelas menos graves, o total de casos chega a quase 3,3 milhões. O levantamento mostra que, de todas as indenizações pagas pelo Dpvat, 72% estão relacionadas a acidentes com motos ou outros veículos de duas rodas, como motonetas e scooters. Um dado importante a ser analisado é que entre os acidentados 78% são homens e 52% têm entre 18 e 34 anos. Em outras palavras, os acidentes envolvendo motos estão atingindo em cheio a juventude brasileira, deixando milhares de famílias desamparadas e ainda comprometendo diretamente a capacidade produtiva do país.
O aumento do número de acidentes com esse tipo de veículo aumentou proporcionalmente ao crescimento da frota nos últimos dez anos. De 2009 a 2018 a frota de motos e ciclomotores cresceu 82%, muito acima dos 69% do aumento da frota geral. E continua crescendo depois de passar um período de baixa, por conta da crise. Este ano deverão ser vendidas no varejo aproximadamente 1.070.000 unidades, um aumento de 13,8% em relação ao ano passado. O grande problema dos veículos de duas rodas no que se refere aos acidentes é que tanto piloto como o carona ficam expostos a impactos, podem facilmente cair do veículo em movimento e podem ser atingidos por outros veículos, uma vez que nem sempre estão bem visíveis no trânsito. Qualquer automóvel para ser lançado no mercado passa por um rigoroso processo de homologação, por meio do qual são checados vários itens, principalmente de segurança. Mesmo após o lançamento, passam também por testes de impacto realizados por entidades independentes, como o LatinNCAP, que avaliam como os modelos se comportam em diversos tipos de impactos. As motos, cujos modelos mais sofisticados só agora ganharam freios ABS, não têm nada disso. A exposição é total e há um fator preocupante nas ruas: o aumento dos serviços de entregas por aplicativos. Até alguns anos era comum vermos motociclistas fazendo entrega de pizzas. Essa modalidade comercial cresceu muito com o uso dos aplicativos de celular e agora todo tipo de comida ou produto pode ser entregue por motos ou bicicletas. E há sempre pressão muito forte dos empregadores para que as entregas sejam feitas rapidamente, para que os alimentos não esfriem, levando os motociclistas de aplicativos a fazer verdadeiras loucuras no trânsito para não serem prejudicados.
Algo precisa ser feito e rápido. Os exames de habilitação para motociclistas devem ser mais rigorosos, para que os candidatos aprendam inclusive noções de pilotagem defensiva. É preciso que o policiamento realize uma fiscalização mais rigorosa, principalmente para coibir abusos de velocidade e desrespeito à legislação de trânsito. E seria muito importante que os responsáveis pelos aplicativos criassem cursos específicos de segurança no trânsito destinados àqueles que entregam seus produtos. O País não pode perder tantas vidas preciosas em acidentes que poderiam ser evitados.