Arborização ameaçada
A um ano das eleições municipais, Sorocaba está se transformando em um canteiro de obras. Em que pese o turbilhão político que a cidade atravessa, algumas obras estão sendo realizadas. A principal e mais visível delas é a implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transit), que pretende incentivar o uso do transporte coletivo e desafogar o trânsito das principais vias. Há inclusive quem questione a prioridade da implantação do BRT em uma cidade com tantos problemas, uma vez que o projeto prevê investimentos de R$ 384 milhões, mas o fato é que as intervenções já ocorrem em algumas áreas há praticamente um ano.
Os transtornos causados na zona norte da cidade são conhecidos da população. A implantação do corredor dos ônibus especiais, de estações de embarque/desembarque, entre outras obras, têm causado problemas aos moradores daquela região, tanto para quem mora perto das obras, como para quem precisa utilizar a avenida Itavuvu, principal eixo de ligação com o Centro. Já foram realizadas obras de remoção de redes de água, de postes, eliminação de ciclovias e interdição de canteiros centrais, entre outras operações, o que atrapalha também o comércio daquela região. Nos próximos meses a Prefeitura/Urbes e a empresa responsável pela implantação do BRT deverão levar os canteiros de obras para outras regiões da cidade como a avenida Ipanema e, mais especificamente, para o eixo formado pelas avenidas General Carneiro e Armando Pannunzio, o movimentadíssimo corredor da zona oeste.
A implantação de sistemas similares em outros municípios mostra que esse sistema poderá melhorar a mobilidade e estimular o uso do transporte coletivo, inclusive diminuindo a emissão de gases poluentes no perímetro urbano, entre outros benefícios. Ocorre que há um aspecto que precisa ser observado com cuidado: os danos paisagísticos e urbanísticos que as obras provocam. No eixo da avenida Itavuvu, a Secretaria do Meio Ambiente, Parques e Jardins (Sema) autorizou a Concessionária BRT Sorocaba a suprimir 70 árvores de diferentes espécies. Nesse caso, a Sema informa que serão plantadas mudas ao longo do canteiro central da avenida e que a Concessionária BRT firmou termo para realizar plantios de mais mudas em áreas públicas. Ou seja, para executar as obras são eliminadas árvores adultas e substituídas por mudas no canteiro central, além do plantio em áreas públicas. É a mesma coisa que nada. As mudas nos canteiros precisarão ser muito bem cuidadas para daqui a 20 anos chegarem ao porte das espécies eliminadas, um prejuízo grande para a arborização da cidade. Plantar mudas em áreas verdes é uma maneira simples de se desvencilhar do problema. Sorocaba já assistiu a vários megaplantios de árvores, ocasião em que milhares de mudas foram plantadas, inclusive no trecho final da Itavuvu. Sem cuidados constantes, praticamente todas as mudas pereceram e não melhoraram a arborização da cidade.
As avenidas de Sorocaba são carentes de arborização. Raras avenidas chamam atenção pelo seu aspecto paisagístico. Exceção é o eixo formado pelas avenidas General Carneiro - Armando Pannunzio, próxima frente de trabalho do BRT. Nessas avenidas haviam no passado frondosas árvores conhecidas como falsas seringueiras que tinham o inconveniente de provocar danos com suas raízes no pavimento, ligações de água e esgoto e até imóveis das proximidades. O ex-prefeito Renato Amary resolveu reurbanizar aquela via e retirou todas aquelas árvores problemáticas e as substituiu por palmeiras-imperiais já formadas. A imprensa nunca conseguiu descobrir o preço da cada árvore, mas sabe-se que custaram muito caro. Plantadas já adultas, ficaram mais de um ano amarradas com cabos até que desenvolvessem raízes e ainda recebiam cuidados e irrigação diários.
Como os corredores do BRT preveem embarque e desembarque pelo canteiro central, o temor agora é que essas árvores sejam eliminadas. A Prefeitura admitiu que o impacto inicial vai atingir quatro árvores e não se sabe se serão substituídas ou simplesmente suprimidas. O sistema BRT, com seus corredores cruzando a cidade,facilmente cria áreas degradadas. Um bom exemplo é a avenida Santo Amaro, em São Paulo, que se tornou uma via inóspita e acabou com seu comércio. Suprir as avenidas de Sorocaba de árvores por onde passam os corredores e eliminar as palmeiras-imperiais do eixo oeste só vai acelerar esse processo de degradação urbana. É preciso minimizar o impacto visual e paisagístico mantendo e, se possível, aumentando a arborização dessas vias. Recuperá-las depois de degradadas, é praticamente impossível.