Barragem centenária

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As chuvas muito acima da média na região Sudeste do País com suas consequências trágicas, entre elas as enchentes, rompimento de açudes e barreiras, aliados às imagens de tragédias como as de Brumadinho e Mariana, ainda presentes na memória da população, formam o ambiente ideal para notícias falsas ou informações desencontradas sobre barragens e represas.

Sorocaba, que felizmente pouco sofreu com os inúmeros temporais das últimas semanas, não fica imune a essas notícias de redes sociais que muitas vezes podem levar preocupação a pessoas menos informadas. Também contribuiu para aumentar o temor com barragens o fato de a represa do córrego Cubatão, construída nos anos 1970 pela Prefeitura de Votorantim para o fornecimento de água para dois bairros estar abandonada e com problemas.

Várias reportagens já mostraram rachaduras, fissuras e vazamentos no paredão dessa represa que hoje não atende mais a qualquer bairro de Votorantim e que, por um acordo com o Ministério Público Estadual, será esvaziada para evitar riscos.

Foi, portanto, bastante oportuna a entrevista publicada por este jornal com o gerente de produção da Votorantim Energia, Alexsandro Martins.

A empresa, como se sabe, é responsável pela represa de Itupararanga que é utilizada tanto para geração de energia elétrica como para o abastecimento de água para mais de 1 milhão de pessoas. A represa, inaugurada no início do século passado em área que pertenceu ao extinto Banco União, foi construída para atender esse objetivo, gerar energia elétrica, primeiro para cidades da região e de algumas décadas a esta parte, para suprir a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).

O representante da Votorantim Energia lembrou que a centenária barragem com 415 metros de comprimento e 38 metros de altura está completamente segura e que passa por inspeções periódicas. As inspeções são feitas tanto por funcionários próprios do grupo como por empresas especializadas contratadas com esse objetivo. São inspeções visuais e também por sensores, instrumentos que indicam qual é o comportamento da estrutura da represa.

Itupararanga, mesmo depois desta temporada de chuvas abundantes, opera com aproximadamente 60% de sua capacidade de armazenamento, um nível considerado normal e seguro. Com esse nível de água, a represa cumpre também seu papel de amortecimento de cheias, o que dá segurança para os moradores de Sorocaba e Votorantim.

Se chover muito intensamente na região da represa e ela tendo capacidade de armazenamento, o chamado volume de espera, é capaz de segurar o volume extra de água e ir soltando mais tarde aos poucos, para não provocar transtornos a jusante da barragem, com a ocorrência de enchentes e alagamentos.

O mesmo princípio de armazenamento das bacias de contenção de cheias, só que em dimensões infinitamente maiores.

O representante da Votorantim Energia lembrou que a empresa não tem qualquer relação com a represa do Cubatão, que fica em área da Votorantim Cimentos.

Esta barragem, incomparavelmente menor que Itupararanga, está abandonada há vários anos e por não fornecer mais água para bairros de Votorantim, deixou também de receber manutenção tanto da prefeitura como da empresa Águas de Votorantim, que é responsável pela captação e distribuição de água no município vizinho desde 2012.

Lembrou também a grande diferença existente entre uma barragem para armazenamento de água e geração de energia e uma barragem para rejeitos, como os de Brumadinho e Mariana, que romperam recentemente e causaram centenas de mortes e danos irrecuperáveis ao meio ambiente. Elas são, segundo o representante da Votorantim Energia, estruturas diferentes para finalidades diferentes.

Mas o que realmente mais preocupa na represa de Itupararanga, que além de fornecer energia para a produção de alumínio é responsável pelo abastecimento de 80% da população de Sorocaba, da totalidade da população de Ibiúna, quase toda a população de Votorantim e parte dos moradores de São Roque, é a qualidade da água ali armazenada.

Há algumas décadas ela era classificada como de excelente qualidade até chegar ao nível preocupante de hoje. Vários trabalhos técnicos realizados no manancial já apontaram a contaminação por esgoto jogado sem tratamento na represa de loteamentos clandestinos ou não, esgoto de condomínios que surgiram no seu entorno e também a contaminação por agrotóxicos e fertilizantes utilizados pelos agricultores que usam a margem da represa.

Esses produtos químicos são levados para a represa pela água das chuvas ou mesmo pela água de irrigação, retirada da própria represa. Moradores da região podem ficar tranquilos com relação à solidez da barragem de Itupararanga.

Já quanto à qualidade de sua água, terão de pressionar muito as autoridades para que medidas efetivas sejam tomadas para que não se torne imprópria para consumo.