Computadores e celulares

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Uma pequena notícia publicada no jornal Cruzeiro do Sul da última quinta-feira (8) chamou a atenção de muitos leitores. Professores e alunos da unidade da Fatec de Tatuí, que faz parte da rede mantida pelo Centro Paula Souza, realizam uma campanha para arrecadar computadores, sejam PCs ou notebooks, tablets e celulares usados para doar aos alunos que não estão conseguindo acompanhar as aulas on-line da rede pública, simplesmente por não disporem desses dispositivos eletrônicos em casa. O trabalho da unidade de Tatuí está sendo um sucesso e exemplo, pois já contemplou aproximadamente 100 estudantes em todo o Estado de São Paulo que agora podem acompanhar as aulas.

A falta de equipamentos, sobretudo computadores nas suas diferentes configurações, está sendo um grande problema para que alunos da rede pública -- e certamente muitos também da rede privada -- consigam acompanhar as aulas ministradas a distância. A rede estadual de ensino do Estado de São Paulo tem 3,5 milhões de alunos matriculados que desde o mês de março estão afastados das salas de aula e, teoricamente, assistindo aulas pela internet.

É louvável o trabalho da rede pública paulista em manter o ensino no período da pandemia. É talvez a rede mais articulada no País para oferecer uma alternativa de educação a distância, mesmo com todas as improvisações e carências que a urgência exige. Mas existem vários problemas no estabelecimento, de uma hora para outra, de uma rede de ensino a distância.

Dois deles são bastante perceptíveis. Em primeiro lugar, muitos professores não estavam preparados ou treinados para ministrar aulas on-line. Uma pesquisa realizada por empresa especializada em meados de maio já mostrava que oito em cada dez professores não se sentiam preparados para esse tipo de ensino.

Do total de professores entrevistados, 90% disseram que nunca tiveram experiência com ensino a distância, nem na formação acadêmica e nem na vida profissional e 55% informaram não ter recebido qualquer treinamento para aplicar essa modalidade de ensino.

Mas há outro fator, talvez o mais sério, que compromete a qualidade de ensino. O grande número de alunos que não têm equipamentos para assistir as aulas. A Secretaria de Educação vem se empenhando para atingir o maior número de alunos, inclusive oferecendo internet grátis, mas o problema é que os estudantes mais carentes não têm computadores, tablets ou mesmo celulares para acompanhar as aulas. Mesmo em lares de classe média baixa, onde existe apenas um computador e um celular, muitas vezes utilizado para o trabalho dos pais, há problemas se houver dois ou mais filhos.

A ideia dos alunos e professores em aproveitar computadores velhos e fora de uso para revisá-los e entregar a quem precisa não é nova. Há anos vários grupos se dedicam a esse trabalho. Em Sorocaba, existe o projeto de metarreciclagem, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Turismo e Renda que realiza um trabalho semelhante.

O projeto recebe toneladas de lixo eletrônicos e computadores velhos dos quais extrai componentes para a construção de novos aparelhos. Há um mês, o projeto entregou dez computadores construídos com peças recicladas para duas entidades assistenciais da cidade.

As peças foram retiradas de equipamentos em desuso entregues por empresas e pela comunidade. Também há um mês, aproximadamente, o projeto entregou quase 500 quilos de sucata de produtos eletrônicos para uma cooperativa de reciclagem da cidade.

Os computadores, celulares e tablets evoluem sem parar, a cada ano surgem novos modelos, mais rápidos, como maior capacidade de processamento e com mais tecnologia. Essa evolução rápida leva a muitas pessoas -- as que têm poder aquisitivo para isso -- a trocar seus aparelhos com muita frequência. O mesmo acontece com empresas, sejam elas grandes ou pequenas.

Dessa maneira, em muitas residências e na maioria de empresas existem equipamentos que não estão sendo mais usados, postos de lado com a chegada de equipamentos mais modernos. Doar esses aparelhos para o programa de metarreciclagem da Prefeitura de Sorocaba ou para iniciativas como a da Fatec de Tatuí é uma maneira de ajudar muitas crianças que estão com seu aprendizado prejudicado por falta de equipamentos apropriados.

Mais faculdades, escolas e entidades poderiam se juntar a um trabalho como esse. Reparar e redirecionar para quem precisa equipamentos que não estão sendo mais utilizados é uma maneira de ajudar o próximo, uma atitude de bons cidadãos preocupados com a aprendizagem das nossas crianças.