Covid-19 na zona rural

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Os agricultores da região de Sorocaba e de outras regiões localizadas no entorno dos grandes centros, geralmente especializados na produção de frutas e hortaliças, formando os chamados cinturões verdes, foram atingidos em cheio pela pandemia do novo coronavírus.

A situação precária de muitos produtores rurais já foi mostrada em reportagens do Cruzeiro do Sul, que revelou que muitos estão descartando parte da produção por falta de mercado. É uma situação completamente diferente dos grandes produtores de grãos, que tem extensas áreas de produção, totalmente mecanizadas, e que estão exportando como nunca.

Além do problema do escoamento da produção, muitos pequenos e médios agricultores estão sendo contaminados pelo vírus e levando a doença para seus núcleos familiares.

Com o início da quarentena no Estado de São Paulo no mês de março, os produtores sentiram um forte baque nos negócios. Restaurantes, lanchonetes, refeitórios industriais e principalmente as merendas das escolas foram fechadas e eram grandes consumidores dos hortifrútis produzidos na região.

Muitos produtores tentaram -- e continuam tentando -- maneiras alternativas de chegar até os consumidores, inclusive com entregas em domicílio, mas a maioria ainda não conseguiu o escoamento de produção que existia antes da pandemia.

Boa parte da produção regional é vendida na Ceagesp de São Paulo, o maior entreposto da América Latina e boa parte dos produtores tem como rotina levar seus produtos para esse local que atualmente funciona com menos bancas, por motivos óbvios, mas que ainda é um escoamento natural da produção agrícola.

Ocorre que esse contato entre produtores rurais e comerciantes e outros envolvidos no negócio no grande entreposto pode estar facilitando a propagação do coronavírus.

Ficou bastante conhecido o caso do técnico em luta de braço Ronaldo Sampaio, de Piedade, que pegou a Covid-19, mas conseguiu se recuperar, depois de um período de internação hospitalar.

Além de técnico esportivo, é produtor rural e a exemplo de outros produtores, leva parte de sua produção para a Ceagesp regularmente. Ele garante que foi lá, onde é grande a aglomeração de pessoas, que pegou o vírus.

Reportagem publicada por este jornal na edição de ontem revela que a contaminação do treinador não é um caso isolado. O novo coronavírus chegou forte à zona rural de vários municípios da Região Metropolitana de Sorocaba.

Em Piedade, município com forte produção agrícola, contava ontem com 45 casos positivos da Covid-19, segundo levantamento da Secretaria da Saúde do município. De todos os casos, 78% são homens residentes na zona rural.

Desse total, 30 já se recuperaram, 12 ainda passam por tratamento e foram registradas três mortes. De acordo com levantamento médico, metade dos pacientes é composta por jovens adultos com idade entre 30 e 49 anos. Em Ibiúna, onde também a agricultura de hortifrútis é forte, estão ocorrendo casos de contaminação pelo coronavírus no campo. Até a noite de segunda-feira passada a cidade registrava 53 casos confirmados da doença e três óbitos, além de 59 casos suspeitos que aguardam resultado dos exames.

O secretário da Saúde de Ibiúna, Samuel Rodrigues, acredita que o local de contaminação desses produtores tem sido os entrepostos onde são comercializados os produtos agrícolas, principalmente a Ceagesp da Capital, frequentada por muitos deles por conta da profissão. São locais com grande fluxo de pessoas, de diversas partes do Estado e do País.

Segundo o secretário de saúde de Ibiúna, há ainda uma série de características na vida dos produtores rurais que podem facilitar o contágio na zona rural. As famílias de produtores geralmente vivem muito próximas, na mesma área, e têm muito contato. É possível ainda acrescentar que ao fazer as entregas de mercadorias nos entrepostos e retornar desse trabalho, os produtores compartilham geralmente a mesma cabine de caminhão, que tem pouco espaço e onde é fácil o contágio.

Com base nesses casos, é importante que as autoridades da saúde dos municípios da região alertem os produtores dos perigos de contaminação e forneçam alguns equipamentos de proteção individual para minimizar os perigos de contágio. Também seria interessante avaliar outras maneiras de escoar a produção agrícola, com auxílio do poder público, para evitar ainda mais prejuízos no setor e o desestímulo ao já pouco valorizado produtor rural.