Exames e consultas

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Os problemas causados pela pandemia causada pelo novo coronavírus vão muito além dos milhões de infectados e os milhares de mortos no País. De início a pandemia mostrou que a estrutura de leitos hospitalares, principalmente de UTIs dotados de respiradores, era insuficiente em todo o Brasil, o que provocou um esforço gigantesco e uma corrida contra o tempo para criar uma estrutura mínima necessária para dar suporte ao grande número de doentes. Governos estaduais e prefeituras se mobilizaram para ampliar o número de leitos nos hospitais existentes e muitos municípios criaram hospitais de campanha com o objetivo de dar atendimento digno aos doentes. O Sistema Único de Saúde (SUS) mostrou que mesmo operando no seu limite de capacidade financeira e técnica, é capaz de dar conta do recado na emergência sanitária.

Em Sorocaba assistimos uma grande mobilização para dar suporte aos acamados. A Santa Casa passou a ser o hospital de referência do município para a Covid-19 e ampliou sucessivamente sua capacidade de internação, tanto em leitos clínicos como de UTI. Criou ainda uma estrutura diferenciada na Unidade Pré-Hospitalar Zona Leste que durante um período foi a porta de entrada para o atendimento de suspeitos de Covid. Mais tarde, duas unidades passaram a também a receber e encaminhar pacientes com suspeita de Covid, a UPA do Éden e a UPH Zona Norte. Para dar conta da demanda, a Secretaria da Saúde de Sorocaba montou o hospital de campanha aproveitando a estrutura da Arena Multiúso, com mais de 80 leitos. O governo estadual também ampliou sua estrutura. Tanto o Conjunto Hospitalar de Sorocaba como o Hospital Regional Dr. Adib Jatene, ampliaram a oferta de leitos clínicos e UTIs, criando uma estrutura suficiente para atender casos da região.

A própria movimentação na rede de saúde que a pandemia provocou, os períodos de quarentena iniciados no final do mês de março, afastaram as pessoas das consultas pré-agendadas e muitos interromperam tratamentos por medo de comparecer às unidades de saúde. Com exceção da campanha de vacinação contra a gripe, dirigida a idosos e a outros grupos de risco, foram registradas quedas na procura por outras vacinas, como o sarampo, um fato extremamente preocupante.

Durante os últimos meses, toda a programação de consultas na rede pública, tanto nas UBS como na Policlínica Municipal foi seriamente afetada. A SES informa que de um lado tivemos profissionais da rede pública deslocados para o atendimento de pacientes da Covid, inclusive no hospital de campanha, e também que houve baixa procura pelas especialistas pois muitos pacientes estariam preferindo adiar essas consultas com medo de se expor a uma possível contaminação pelo coronavírus em ambiente hospitalar.

O fato é que a fila de espera para consultas continua muito grande. A reportagem do Cruzeiro do Sul pediu à Prefeitura um levantamento do número de pacientes que aguardam para serem atendidos por especialistas, exames e para procedimentos de baixa complexidade na Policlínica, mas esse levantamento ainda não foi concluído. A reação dos leitores, quer no portal do Cruzeiro do Sul, quer nas redes sociais da publicação, foi muito forte. Somente na conta do jornal no Facebook aproximadamente 350 pessoas se manifestaram, a grande maioria reclamando do atraso nas consultas, o que em alguns casos ultrapassa um ano. Se o novo secretário da Saúde do município quiser ter uma ideia de como está o conceito da SES junto à população, precisa apenas ler algumas das manifestações de cidadãos indignados na rede social.

A fila para consultas na rede pública de saúde sempre foi um problema delicado. Há pouco mais de um ano, reportagem publicada por este jornal mostrava que existiam 39.779 pessoas na fila para consultas e mais de 45 mil esperando algum tipo de exame, ou seja, mais de 85 mil pessoas aguardando por algum procedimento a que têm direito. Nesta semana, uma determinação judicial deu um prazo de 60 dias para que a Prefeitura atenda todos os pacientes que aguardam tratamento odontológico. Reportagem sobre o assunto mostrou que havia pelo menos 5 mil pessoas na fila de espera para atendimento odontológico. Caso isso não ocorra, a Prefeitura terá que arcar com os procedimentos com dentistas não credenciados pelo SUS. Foi fixada também uma multa diária de R$ 10 mil para cada dia não cumprido da decisão.

Com a lenta queda de novos casos de Covid-19 no município e a gradativa desmobilização do pessoal da SES deslocado para o atendimento às vítimas da pandemia, é urgente que sejam retomados os atendimentos. Poderiam ser realizados mutirões ou coisa parecida para diminuir o tempo de espera dos pacientes e as gigantescas filas de espera. É preciso eliminar essa situação vergonhosa.