Mais um passo

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Para os sorocabanos, a 24ª semana de restrições sociais por conta do combate à pandemia do novo coronavírus está chegando ao fim com a extensão da flexibilização das atividades aos setores de lazer, cultura e desportes. Por meio de decreto datado de sexta-feira (4), a prefeita Jaqueline Coutinho (PSL) permitiu, já a partir de ontem, a reabertura de grande parte da estrutura de entretenimento. A medida abrange, salas de cinema, teatros, museus, bibliotecas, parques e centros esportivos, entre outros. Após 168 dias restrito às recreações isoladas e virtuais, é compreensível que o público receba a notícia com euforia -- e, até, com um justificável sentimento de revanche contra o confinamento prolongado. Empresários e artistas, por sua vez, têm todo o direito de vislumbrar a possibilidade de, finalmente, encerrar o jejum de faturamento. O bom-senso e as circunstâncias, no entanto, nos aconselham a manter a guarda levantada para evitar reveses como os já registrados mundo afora.

Formalmente correta, tendo em vista que observa os parâmetros estabelecidos no Plano São Paulo -- permanência do município durante 28 dias consecutivos na fase 3 (amarela) --, a deliberação da administração municipal deve ser interpretada e praticada com responsabilidade por toda a sociedade. A proposta tem, claramente, a intenção de desobstruir gradativamente as engrenagens da economia e os demais mecanismos que fazem a vida da cidade funcionar. Porém, não significa renúncia aos protocolos de segurança sanitária destinados a evitar a livre circulação do vírus causador da Covid-19.

Vale lembrar que o momento ainda exige extrema cautela nas relações sociais. As estatísticas demonstram tendência de estabilização de casos confirmados e de óbitos resultantes da doença, porém, as cifras ainda estão muito elevadas em todos os âmbitos. De acordo com a Universidade Johns Hopkins (EUA), o planeta inteiro contabilizava, ontem, 26,6 milhões de pessoas contaminadas, enquanto o total de casos fatais já superava os 874 mil. No Brasil, o balanço mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde indicava 4,09 milhões de infectados e mais de 125 mil mortos -- sendo 31.091 óbitos entre os 845.016 doentes confirmados no território paulista.

Em Sorocaba, a taxa de ocupação de leitos -- de UTI e clínicos -- destinados a pacientes com suspeita ou confirmação de contaminação vem caindo lentamente, mas está claro que o vírus continua circulando. O relatório da Secretaria Municipal da Saúde divulgado no site da Prefeitura no final da tarde de sexta-feira apontava 15.693 moradores da cidade positivados -- 84 nas 24 horas anteriores --, 127 internados, 535 casos aguardando resultados de testes e 356 mortes.

Reconhecendo a vulnerabilidade da situação -- passível de descontrole em razão de qualquer pequeno descuido --, o decreto municipal condiciona a liberação dos equipamentos de entretenimento a uma série de medidas preventivas. Em primeiro lugar, distingue as estruturas cujos eventos provocam aglomerações, como as casas de espetáculos, boates, salões de festa e clubes. Todos estes continuam proibidos de abrir. Quanto aos demais, ficam sujeitos a restrições: máximo de oito horas de funcionamento diário, limitação do público ao máximo de 40% da capacidade do estabelecimento, controle de acesso, venda de ingressos on-line, disponibilização de álcool em gel para os frequentadores e equipamentos de proteção individual para os funcionários, entre outras. Além do mais, algumas instituições de funcionamento mais complexo, como o Zoológico Quinzinho de Barros e demais parques municipais, devem elaborar protocolos específicos -- que precisam passar pelo crivo das autoridades da Saúde -- antes de liberar o acesso aos visitantes.

O desafio imediato passa a ser o cumprimento das cautelas previstas no decreto que entrou em vigor neste sábado (5). Nunca é demais reforçar que a superação da ameaça que bate à porta de todos nós depende da atitude de cada um. O momento exige prudência do público, gestores responsáveis e órgãos públicos vigilantes.